A campanha de divulgação do documentário da Xuxa na Globo Play está arrasadora! Estou completamente envolvido e não consigo resistir à tentação de abordar esse assunto tão instigante. É quase impossível escapar do impacto avassalador que essa propaganda tem causado nas redes sociais. Se você usou a internet nos últimos dias, com certeza se deparou com vídeos da Xuxa em entrevistas explosivas e participações marcantes em podcasts, revelando detalhes fascinantes de sua vida e despertando a curiosidade sobre o documentário produzido sobre ela, disponível agora na plataforma.
Entre os diversos temas abordados, o que mais tem chamado a minha atenção é a relação conturbada que Xuxa teve com Marlene, sua figura de apoio durante sua carreira, especialmente nos primeiros anos. Marlene, muitas vezes vista como mentora, assessora e a força por trás da imagem da "rainha dos baixinhos", é descrita por Xuxa como uma influência tóxica em sua vida. Xuxa revela histórias chocantes de abuso, relatando como Marlene a mantinha aprisionada em hotéis, controlava seus relacionamentos e até mesmo ditava seu destino profissional. Marlene era implacável em relação às suas roupas, usando uma comunicação agressiva para estabelecer o que era aceitável ou não. Xuxa revela que se sentia manipulada e tratada como uma marionete, embora Marlene justificasse suas ações como necessárias para garantir o sucesso de Xuxa. Segundo Marlene, o mundo não é um lugar fácil, e ela acreditava que era preciso adotar essa postura rígida. Xuxa, no entanto, discorda veementemente. Essa relação abusiva entre mentor e protegido não é uma novidade no mundo, muito menos no mundo da fama e do sucesso.
Ao assistir ao reencontro entre Xuxa e Marlene no documentário, fiquei impressionado com a postura inabalável de Marlene, mesmo sendo rotulada como cruel e implacável. Ela ainda defende suas táticas e métodos, mostrando uma confiança inabalável em suas ações. Isso me lembrou de uma série que acabei de assistir, chamada "Succession". Nela, acompanhamos a família Roy, liderada por um magnata dos negócios, um verdadeiro titã do capitalismo que alcançou o sucesso através de uma personalidade rígida. Ele trata a vida e as pessoas como peças de um jogo, manipulando sua própria família com táticas cruéis e jogos mentais desafiadores. Essas histórias são tão bizarras porque mostram que, às vezes, essas atitudes severas parecem ser responsáveis por bons resultados.
Não podemos ignorar a quantidade de discussões que estão acontecendo nas redes sociais sobre o caso de Xuxa e Marlene. A maioria das pessoas parece estar ao lado de Xuxa, no entanto, há quem critique Xuxa, acusando-a de exagerar e exigindo que ela seja mais grata a Marlene, afirmando que sem ela, Xuxa não teria alcançado a fama e o sucesso que possui hoje. É intrigante observar como essas atitudes abusivas ainda são justificadas pelas pessoas, como isso ainda é normalizado no imaginário social.
Outros casos igualmente marcantes vêm à mente, como o de Michael Jackson e seu relacionamento tumultuado com seu pai, que deixou marcas profundas em sua vida. O pai de Michael Jackson foi uma figura extremamente controversa, com estratégias e táticas questionáveis que o levaram a uma situação complicada com seu filho e que deixou nele uma percepção alterada de si mesmo, à sua infância e à sua imagem pública. Mesmo após a morte de seu pai, esses problemas persistiram, refletindo-se em sua autocrítica sobre suas performances e shows.
Outro exemplo impactante é o da Joelma, que compartilhou recentemente a difícil relação que teve com seu ex-marido, caracterizada principalmente por motivos financeiros em vez de afetivos. Ele fechava contratos de shows sem o consentimento dela, levando-a a realizar apresentações frenéticas, muitas vezes comprometendo sua saúde e levando-a ao limite. Essa experiência moldou a característica pela qual Joelma é aplaudida até hoje: a capacidade única de cantar e dançar intensamente durante seus shows ao vivo, sem o uso de playback. A complexidade desses casos é inegável, pois podemos condenar ou romantizar essas figuras cruéis.
No entanto, é importante reconhecer que o sucesso desses personagens tão recorrentes não se deve exclusivamente a essas figuras cruéis cuidando de suas carreiras. Há uma infinidade de fatores envolvidos, como determinação, criatividade, carisma e uma série de circunstâncias ambientais complexas.
Portanto, não podemos simplificar as narrativas e atribuir exclusivamente a essas figuras cruéis todo o sucesso alcançado por essas pessoas. Essa abordagem seria injusta e antiética. Através de filmes e séries, aprendemos que voltar ao passado e tentar mudar algo raramente resulta nos desfechos esperados, pois é quase impossível prever com precisão como a história se desdobraria após uma alteração no curso dos eventos passados.
No entanto, mais do que debater sobre a fama em si ou o que contribuiu para esse sucesso, é fundamental refletirmos sobre as estruturas de hierarquia e autoridade que naturalizamos. Devemos questionar até que ponto esses abusos devem ser combatidos e defender a ideia de uma vida digna e um trabalho digno como objetivos que todos devemos buscar alcançar.
Sendo assim, é fundamental que figuras como essas falem abertamente sobre seus abusos, para que eles deixem de ser romantizados e para que as próximas gerações não precisem passar por situações semelhantes em busca de fama e sucesso.
Embora seja complexo, é importante refletir sobre esses casos. Devemos nos acostumar cada vez mais com a ideia de que as pessoas podem alcançar sucesso e prestígio sem passar por situações abusivas como as descritas. Romantizar abusos e excessos de autoridade não é positivo. Artistas e pessoas que denunciam essas práticas têm um papel importante na sociedade. É bom perceber que os tempos estão mudando e que as pessoas estão falando abertamente sobre essas questões.
Esse debate deve ser multifacetado, envolvendo contribuições da Psicologia, das Ciências Sociais e das discussões sobre autoridade e seus impactos na sociedade. A existência dessas figuras cruéis se dá, em parte, porque há uma parcela da sociedade que as aceita, e isso está relacionado às estruturas econômicas e políticas. É uma discussão profunda que nos leva a refletir sobre a raiz do problema.
Embora seja um assunto complexo, é essencial refletir sobre esses casos. Devemos nos acostumar com a ideia de que as pessoas podem alcançar sucesso e prestígio sem precisar passar por abusos como os descritos.
E agora, leitores (as), gostaria de saber suas opiniões sobre esse tema. O que vocês pensam a respeito? Que outros exemplos poderiam ter sido mencionados? Não deixem de compartilhar suas perspectivas nos comentários abaixo.
Muito bom Marcos. O ensaio ficou bem escrito. Eu ainda não assisti o documentário de Xuxa, mas queria. Ela tem histórias bem pesadas, o que se choca com a própria imagem de uma "rainha dos baixinhos", uma imagem pura e alto astral. É curioso que nos bastidores dessas figuras muitas coisas acontecem, para além dos olhos do público