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Foto do escritorFelipe Nascimento

UMA LIÇÃO PARA VINI JR.



O mundo futebolístico ficou chocado na última segunda-feira com a escolha de Rodri para o prêmio Bola de Ouro de melhor jogador do mundo na temporada 2023/24, promovida pela revista France Football. O grande favorito era Vinícius Jr., multicampeão pelo Real Madrid, com atuações marcantes em jogos decisivos e gols em finais, mas o título ficou para o volante espanhol, campeão da Euro 2024 e eleito o craque do torneio.


Apesar da indiscutível qualidade de Rodri, quem acompanha o futebol está com dificuldades em explicar o motivo do colégio eleitoral, formado por 100 jornalistas dos 100 países melhores colocados no ranking da FIFA, não consagrar o brasileiro como o melhor da última temporada. 


Considerando apenas critérios futebolísticos, é praticamente consenso que Vini Jr. jogou mais que o espanhol. Rodri não foi considerado o melhor nem na sua própria equipe (seu companheiro Phil Pholden foi eleito o craque da Premiere League e o melhor jogador da equipe pela torcida do Manchester City) e muita gente questionou seu título de melhor da Eurocopa – outros espanhois, como Yamal, foram mais decisivos no torneio. Rodri também esteve fora do time ideal da Champions e não esteve entre os finalistas do craque da Premiere League. 


Acontece que o prêmio Bola de Ouro não considera apenas os feitos em campo. Os 3 critérios estabelecidos do prêmio são: desempenho individual na temporada, títulos coletivos e imagem pública do jogador, dentro e fora do campo - como atos de fair play e ações sociais. Tudo indica que foi nesse 3º critério que Vini JR perdeu o prêmio, visto que, para os padrões europeus, o brasileiro não é visto como um bom exemplo dentro de campo. 


“Aqui não vale somente ganhar e fazer gols”


O jornalista Lluis Miguelsanz, do diário espanhol Sport, nos dá uma bela pista do porquê Vini Jr. ter perdido o prêmio. Às vésperas da premiação, ele escreveu, conforme tradução da CNN: “Decisão acertadíssima, se confirmada, de entregar o prêmio ao meio-campista. Uma lição para Vinicius: aqui não vale somente ganhar e fazer gols. Suas reclamações constantes e suas provocações, seus atos reprováveis no campo e a sensação de que ele não aprende seguramente tiraram votos”.


Para o mundo do futebol, portanto, o fato de Vini Jr. ser “provocador” pesou mais do que os seus feitos como atleta. Isso só não pesou contra o goleiro Dibu Martínez, eleito pela 2ª vez o melhor goleiro do mundo, no Bola de Ouro, a despeito de suas recorrentes condutas antidesportivas.


Já o fato do brasileiro se posicionar na luta contra o racismo, ser um atleta que interrompe o jogo, que cobra das autoridades e fala abertamente sobre o racismo que sofre dentro de campo, não é ponto positivo para a “imagem pública do jogador”, e nem é considerado fair play.

 

Lembro-me até hoje de como Daniel Alves foi aplaudido, em 2014, ao enfrentar o racismo comendo a banana que foi atirada contra ele em campo. A imprensa esportiva da época ficou maravilhada com essa atitude. Foi um ato simbólico que chamou a atenção sobre o problema, sem dúvidas, mas que não deu nenhum recado além do “não ligo para vocês”. Vini Jr. resolveu ligar para os racistas, apontá-los, exigir que parassem com as ofensas. Um resultado direto foi a sentença inédita de condenação de três torcedores do Valência que cometeram injúrias racistas contra o brasileiro. Mas isso tudo pouco importa para o prêmio Bola de Ouro, pois as “atitudes reprováveis” de Vini Jr. pesam mais contra ele do que seus méritos.


Se isso não é retaliação pelo enfrentamento de Vini Jr. ao racismo, me diga, então, o que é. Você pode aceitar a explicação de que Vini Jr. perdeu o prêmio por ser um mau exemplo dentro de campo, ou por ter ido mal na Copa América, ou pelos europeus sempre se favorecerem nesses prêmios. Podemos concordar que, para um ou outro jornalista que votou, qualquer um desses fatores podem ter sido considerados. Mas é impossível negar o peso do racismo estrutural para que todas essas variáveis pesassem tanto contra o Vinícius Jr.


Em condições normais, não deveriam haver tantos questionamentos contra quem é decisivo em diversos jogos importantes, é campeão com gol na final de Champions League, ganha três títulos e tem um crescimento constante na carreira ano a ano. A meritocracia, que tanta gente que questiona a luta antirracista adora defender, voou longe nessa hora.


É verdade que essa não é a 1ª injustiça do prêmio Bola de Ouro. Talvez o caso mais emblemático tenha sido o de Modric, em 2018, vice-campeão da Copa do Mundo, que ganhou o prêmio de melhor jogador mesmo com uma temporada esmagadora de Cristiano Ronaldo. Uma injustiça tremenda, mas há uma certa lógica, ainda que errada, pelo peso de uma seleção como a Croácia ser vice da Copa do Mundo e pela saturação de CR7 e Messi ganharem sempre. Já a lógica para o prêmio de Rodri é, aparentemente, punir atitudes antidesportivas de quem recorrentemente sofre racismo e se posiciona contra. Repito: para o mundo do futebol, ser provocador em campo é um mau exemplo, mas lutar contra o racismo, não é algo digno de prestígio.


Foi de fato uma lição para  Vini Jr., mas uma lição que ele já conhece muito bem: se você é um negro que incomoda, é necessário ser muito melhor para ter o mesmo reconhecimento. Em sua conta no X, ele mostrou que entendeu o recado: “Eu farei 10x se for preciso. Eles não estão preparados”.


Fonte da imagem: Getty Images. Retirada do Portal Terra


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