UMA DOSE DE “CAETANEAR” E OUTRA DE GILBERTO GIL, POR FAVOR!
- Equipe Soteroprosa
- 23 de ago. de 2023
- 3 min de leitura
Ao preparar uma aula, busquei um renome da música baiana, e daí os algoritmos resolveram passar uma semana trazendo mais detalhes e detalhes. Li sobre Caetano na Tropicália, até a notícia da emoção do mesmo ao ver Xande de Pilares cantar os versos de “Gente.” Enfim! A minha playlist ganhou novas canções e minha mente bombardeou de conteúdos; no entanto, algo não escapou ao meu olhar em meio às pesquisas. Entre um clique e outro sempre surge o verbete “Gilberto Gil.”
A amizade entre os baianos não é novidade. Desde 1963, o simples encontro na Rua Chile foi inevitável para uma parceria incrível que envolve composições, shows e prisão. É preciso acrescentar à lista o aspecto “família.” O elo é tão forte que é fácil achar que Maria Betânia é irmã sanguínea de Gil, consequentemente, Preta Gil é sua sobrinha.
Em um mundo capitalista, é fácil o clima de competição instaurar. Já vi tanta gente se aproximar só para extrair do outro o que há de bom e depois “tchau”, assim como presenciei tanto outros se achegar e depois agir como uma criança travessa que coloca o pé para você cair. É por isso que uma dose de Caetanear e outra de Gilberto Gil são necessárias, porque o mundo é grande e cada um pode ocupar gentilmente o seu espaço.
Para exemplificar, o ano de 1977 é perfeito. Caetano lançava o álbum Bicho, com o famoso verso “(...) Deixa eu dançar pro meu corpo ficar odara.” Gil presenteou o mundo da música com o “Refavela” , cujo álbum promovia um resgate da cultura afro. Já em 2021, enquanto Gil toma posse na academia brasileira de Letras, Caetano faz um post em que, entre muitas palavras de felicitações, há a expressão “É meu irmão em música e em Letra”, ou seja, dá para ter dúvidas dessa relação?
Na louca travessia da vida, milhões de pessoas passarão diante dos nossos olhos, mas quantas delas dividirão um apê, uma composição ou até mesmo uma cela? Será que você é o Caetano de alguém ou é o Gilberto Gil? Esta semana descobri a resposta a essa pergunta, porque ao estar distraída em uma escada rolante vi alguém gritar o meu nome, e quando vi era uma amiga a quem dividi o ato de lecionar por uns anos. O nosso movimento na escada era contrário, então só foi sorriso e um aceno breve que deu continuidade a uma conversa no WhatsApp, que em linhas curtas dizia:
“Desculpas ter gritado seu nome como uma criança no meio do shopping.”
Foi ali que descobri que sim! Eu já fui Veloso e o Gil de alguém. Pois, a gente só grita no meio da multidão quem realmente amamos. O mesmo se deu com um certo sujeito que estava há 7.482 km em meio a um metrô, mas decidiu parar tudo e afirmar: “Ainda bem que em 2004 eu insisti em bater na sua mesa e puxar um papo.”
Crônica melosa essa, não é? Mas, nunca foi parte do plano ser o “poeta que não aprendeu amar”, talvez a perda de gritos em meio ao shopping e interrupções da rotina para uma mensagem que confirme o afeto seja a causa para o surgimento de um agosto lilás. Mês popularmente conhecido como mês do desgosto, traz o sabor, de fato, amargo de inúmeros casos de violência contra mulher. Isolar? Perseguir? Difamar? Forçar o sexo? Proibir a ida ao mercado de trabalho? Chutar? São ações que insistem em existir, tornando necessário o protagonismo da pauta no calendário.
Mesmo que seja clichê, eu prefiro passar a tarde de domingo vendo dois idosos com seu violão tocar “anda com fé eu vou que a fé não costuma faiá”, enquanto eu tomo um rosé e me dou conta que as mensagens que recebi durante a semana recheadas de carinho (que muitos julgam démodé) foram maiores que os e-mails de tarefas a cumprir.
PS. Mais amor, por favor!
Ass:Uma emocionada confessa
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Texto maravilhoso!
EE