Após assistir a primeira apresentação ao vivo da Shakira com seu sucesso global “BZRP Music Sessions Vol. 53” no Jimmy Fallon, onde uma platéia inteira cantou toda a letra do hit com enorme entusiasmo e reproduzindo detalhes dos passos de dança da superstar, eu entendi que era hora de falar sobre a frustração feminina, já que ela se tornou foco de atenção no mundo fonográfico. No começo de 2023, três canções de diferentes artistas mulheres estavam no topo da parada com algo em comum: suas histórias de fundo sobre relacionamentos frustrados com homens.
Ao lado da música icônica da Shakira, que descreve, com deboche e trocadilhos, toda sua dor, raiva e indignação por uma relação de mais de dez anos, com dois filhos, em que o marido a traiu em casa com uma colega de trabalho, estão a canção Flowers da Miley Cyrus, e sua letra icônica que re-interpreta uma música romântica que seu marido cantava para ela - em um mensagem de potência sobre sua independência em relação a ele - e, por último, a música Kill Bill da SZA, que retrata a confissão de uma mulher traída que está devaneando em pensamentos de vingança contra o ex e a amante.
Depois de eu descrever no texto “Um barril de pólvora chamado frustração masculina” como as estatísticas revelam o que os homens têm feito com suas frustrações (uma onda de ódio em palavras e ações em proporções estrondosas), precisava fazer o paralelo que podemos ver com o lado oposto. Mulheres sendo enganadas, traídas, abusadas, abandonadas e se sentindo completamente frustradas. O que elas estão fazendo? O que eu poderia dizer sobre o assunto?
Já abri alguma possibilidade de resposta dentro do caminho artístico, onde mulheres artistas assumem esses sentimentos, transformam em grandes hits e ganham milhões - um verdadeiro barril de grana! O top 3 descrito por mim não é algo novo. Outras mulheres movimentaram o mundo da indústria com histórias semelhantes. Exemplos rápidos: Beyonce e seu premiado álbum Lemonade, recheado de hits sobre sua eventual descoberta de uma traição, Selena Gomez e sua primeira estréia no número 1 global com “Lose you to love me”, um shade para seu ex, Justin Bieber, e Taylor Swift, que construiu uma carreira de mais de quinze anos com muitos sucessos construídos a partir de frustrações amorosas.
Mas, nem tudo são flores, grandes hits e dindin na conta quando enxergamos o quadro de mulheres fora desse eixo da music mainstream. Para a vida comum, o comportamento de resposta feminino a dor de uma separação é tomado por problemas de saúde mental, perda financeira e, em muitos casos, sobrecarga materna. A depender do investimento que a mulher empreendeu na relação, ela pode sair dessa relação sofrendo uma grande queda na sua qualidade de vida e precisando recomeçar do zero.
Confira algumas evidências:
“Outras pesquisas descobriram que, enquanto os homens sofrem mais problemas de saúde a longo prazo após o divórcio se não se casarem novamente, as mulheres tendem a sofrer mais seriamente a curto prazo por causa da súbita perda de status, apoio financeiro e da rede de segurança emocional, fornecida pelo casamento.”
“O cenário para as mulheres que passam pelo divórcio é ainda mais crítico: após a separação legal, a renda das mulheres cai em média 33%, contra 18% para os homens.”
“Uma pesquisa da Famivita revela que uma em cada cinco brasileiras é abandonada na gestação.”
“Mais de 20 milhões de brasileiras criam seus filhos sem a presença do pai, segundo um estudo do Instituto Data Popular.”
Porém, uma coisa parece ser certa. A incidência do uso de violência por parte das mulheres contra seus ex-parceiros é muito menor do que os números masculinos.
“[Segundo pesquisa Nacional de Saúde, do IBGE] De forma semelhante à violência psicológica e física, os agressores mais citados pelas vítimas de violência sexual foram cônjuge(s), companheiros(as), ou namorados(as) (incluindo ex-parceiros(as), ex-cônjuge(s) etc.), citados em 45,6% dos casos, sendo 53,3% para as mulheres e 25,3%, homens.”
Claro que não quero trazer esse comparativo para evidenciar que um gênero é melhor do que outro. Lembrem, tudo isso é parte de uma construção discursiva que dialoga de formas diferentes para cada pólo binário. Aos homens, é dito que o fracasso das relações é irrelevante e que seu foco deve estar no sucesso do trabalho e na potência sexual, com acréscimo de que cabe a eles explorarem o domínio desses espaços com violência, se necessário. Às mulheres, o extremo oposto. Sexo e trabalho são detalhes da sua vida, onde este não precisa ser uma prioridade e aquele uma necessidade mínima e, em alguns casos, apenas necessário para segurar uma relação. O foco, em termos de sucesso feminino, está em fazer as relações darem certo e sua principal arma para isso nunca deve ser a violência. Uma mulher que levanta seu tom de voz já está fora de cogitação, imagine tocar no corpo masculino com tapas, chutes e socos?
Isso significa que não existem mulheres que façam isso? Ledo engano. Elas sempre vão existir mas, até as motivações para esse tipo de recurso recai de diferentes formas para homens e mulheres.
“Nos EUA, 90% das mulheres encarceradas por matarem um homem eram agredidas por aquele a quem mataram.”
Por fim, faço esse texto também para rebater uma parcela da população que critica esse tipo de exposição por parte de artistas renomadas como Shakira, SZA e Miley, clamando que isso expõe os homens em questão. Para isso eu fecho com uma frase de Margaret Atwood, presente na segunda temporada de The Handmaid's Tale:
“Homens têm medo que as mulheres riam deles. Mulheres têm medo que os homens as matem.”
FONTES:
Fonte da imagem: https://entretenimento.r7.com/musica/shakira-miley-cyrus-e-sza-dominam-as-paradas-com-musicas-que-alfinetam-ex-parceiros-17012023
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