Dia 10/08. Data da votação da PEC do Voto Impresso. Naturalmente um dia tenso, visto que o ataque ao sistema eleitoral em vigor é hábito do presidente Jair Bolsonaro.
Para “apimentar” as coisas, Bolsonaro ordenou um desfile militar em Brasília. Segundo nosso “presida”, seria por conta do convite para o treinamento militar que ocorre em Goiás todos os anos desde 1988.
No entanto, o desfile mostra-se completamente desnecessário, uma vez que esse convite é feito todos os anos para o presidente, no entanto, sem desfiles ou manifestações do tipo.
A famosa insegurança de Bolsonaro, inclusive em relação às eleições em 2022, aliada com a forma que os militares de “farda suja” têm ameaçado a possibilidade de um golpe toda vez que se sentem ameaçados, não é difícil de entender o motivo desse desfile de blindados, né não?
No meio dessa bagunça, um artista chama a atenção. Um músico, para ser mais exato. Fabiano Leitão, trompetista e contra o governo atual, levou seu trompete para o desfile para um protesto pacífico, como lhe garante a constituição.
Agora pensem comigo: veículos blindados militares contra UM cidadão não parece uma briga justa, né? Para a Polícia Militar do DF, nosso amigo trompetista era uma ameaça (sim, ele) ao que estava ocorrendo. E deveria ser silenciado.
Logo, a reação da polícia foi imobilizar o Fabiano, deixando-o com marcas, ficha-lo por resistência à prisão e destruir seu instrumento de trabalho
Se para um cidadão comum, isso já causa indignação, para um músico ainda mais. Pois, um músico possui com seu instrumento uma relação de carinho. Não é apenas mais um bem material.
E, para ser sincero, essa atitude mostra muito bem como os “líderes” tratam a classe artística. Mandam de volta pra casa com escoriações e seu ganha pão reduzido a “peso morto”.
Ainda mais considerando que a arte é um dos maiores meios de expressão e conservação da história e cultura da humanidade. E, se tem liberdade de expressão, cultura e história, essa galera quer ver reduzida a pó.
Na época da ditadura militar, inúmeros artistas foram perseguidos, exilados e censurados. Eu cresci sabendo que aquela época nunca deveria se repetir, pois foi uma das maiores tragédias que o Brasil já teve que lidar. E me assusta ver que está havendo um esforço muito grande por parte de quem tá no poder para que essa época bizarra volte.
Porém, tem um outro lado que é importante lembrarmos. De fato, foram blindados e polícias contra UM músico e seu instrumento. E isso diz muito mais do que parece.
Pois, nos lembra que a arte, a cultura e, principalmente, a liberdade de expressão tem um peso maior do que qualquer ideia fascista de um grupo que tenta, na base do ódio e da lavagem cerebral, garantir seus privilégios enquanto sugam qualquer possibilidade de real felicidade de uma nação.
Como você pode ver pelas minhas palavras, sou fortemente contra o governo atual. Mas não quer dizer que sou de esquerda. Tampouco acredito que a salvação está em colocar a esquerda radical no poder.
Mas, como podemos ver nos acontecimentos do dia de hoje, não se trata de política mais. Se trata de protegermos quem somos e nossos direitos. Se trata de garantir que um cidadão, seja ele artista, advogado, professor, zelador, policial, médico... quem seja, tenha seu direito de expressar seu apoio ou indignação.
Até porque, não sei vocês, mas não quero que os historiadores do futuro acreditem que nós sensatos éramos a favor de tudo que tá acontecendo. E, pela forma como querem tratar a cultura, não duvido nada que, caso eles continuem no poder, tentem deturpar a nossa história para fazer isso parecer verdade.
Imagem de capa: Evaristo Sa/AFP; via: < https://g1.globo.com/df/distrito-federal/noticia/2021/08/10/desfile-de-taques-homem-conhecido-como-trompetista-e-preso-ao-tentar-impedir-passagem-de-veiculos-militares-em-brasilia.ghtml>
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