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SEU FETICHE PODE E O DELE NÃO?






No último sábado, rondou no Twitter uma nova polêmica - afinal, essa rede edificadora vive para isso. Dessa vez, o que assustou toda a galera e gerou uma chuva de opiniões divergentes foi o caso do ‘’Gustavo Scat’’, ficando nos assuntos mais comentados do momento e mobilizando até psicanalistas que se envolveram no debate para expor o que a Psicanálise fala sobre algo assim.

Explicando a situação toda, um perfil gerido por alguém com o pseudônimo de ‘’Gustavo Scat’’ publicava vídeos e conteúdos expondo um fetiche estranhamente nojento do ponto de vista social: a inserção de dejetos fecais em suas práticas sexuais. Até aí [quase] tudo bem, mas a polêmica ganha força mesmo quando é revelado quem está por trás dessa conta: o ator Fernando Mais de ‘Turma da Mônica Jovem’, intérprete do personagem Zecão no live-action.


Fernando assumiu no dia 8 de julho ser o dono do perfil polêmico, além da autoria do livro ‘’Quero Scat - O sexo com cocô, mijo e peidos" de mais de 500 páginas, publicado em maio deste ano. A repercussão levou o autor a se posicionar em suas redes junto ao comentário: ‘’Que nojo de comentários maldosos. O ser humano é uma merda’’, ironizando toda a situação com todos os recursos possíveis, imagéticos e textuais.


Agora, o que podemos pensar sobre isso tudo? A polêmica mobilizou assuntos como: moralidade, hipocrisia, curiosidade, limites do fetichismo[1], saúde mental, entre outros. Psicanalistas adentraram ao debate construindo um raciocínio difícil e subversivo à primeira vista: tudo bem desejar ter o sexo que se fantasia, mesmo com o scat, afinal essa é só mais uma das inúmeras fantasias sexuais existentes (e reprimidas) na sociedade.


Desde que não seja algo patológico, ilegal e não consensual, afinal, qual seria o grande problema? Por ser escatológico ou por ele ser um ator de filme infanto-juvenil? Mas se fosse qualquer outro desconhecido e anônimo, a internet alimentaria o alvoroço? Se o posicionamento dele fosse diferente, demonstrando vergonha, arrependimento ou repulsa por seus próprios desejos? O que podemos pensar a respeito dos inúmeros acessos e busca deste e outros tipos de conteúdo em sites pornográficos feitos de forma silenciosa e anônima? E mais ainda, por que tantas visualizações nos vídeos do Gustavo, mesmo diante da repulsa?


A coragem de expor a si mesmo e falar (com propriedade) dos fetiches sexuais que se tem, seja um BDSM, cuckold, swing, transformismo, fantasias com personagens e diversos outros, gera muito incômodo, afinal, existe uma regra muito bem estabelecida na sociedade de que tudo vale (e fica) entre quatro paredes, obrigando as pessoas sempre a recalcar e reprimir seus desejos sexuais mais inconscientes. O sexo por si só ainda é visto como pecaminoso e pouco naturalizado, imaginemos pensar então como são visualizados os fetiches. Claro que não falo aqui de nenhuma prática criminosa que fira a integridade e dignidade de quaisquer pessoas ou grupos sociais.


Somos capazes de medir desejo, dor, fantasia e prazer de alguém? São assuntos íntimos, não cabendo a ninguém moralizar o que nos leva ao gozo (no seu sentido mais amplo).


Mas e você, o que acha dessa história toda? Seu fetiche pode e o dele não?


__________________


* Graduanda em pedagogia na UFBA. Instagram: @klynasc


[1] Fetichismo vem da palavra feitiço e Freud (1905) já falava sobre como a relação entre repressão sexual e religião estão intimamente ligados. Ao escrever sobre sexualidade infantil por exemplo, foi perseguido, já que as pessoas não concebiam falar sobre sexualidade e infância de forma natural, distorcendo inclusive, o real objetivo do seu trabalho: discutir as fases do desenvolvimento infantil a partir dos períodos em que a criança investe libido em objetos diferentes (ex: ao falar da fase oral, existe um investimento de libido em que a criança morde muito os objetos, colocando tudo a boca para conseguir sentir, já que não tem coordenação motora desenvolvida).





Referências:



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4 Comments

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Marcos Lima
Marcos Lima
Jul 12, 2023

Fiquei realmente intrigado com o tema abordado, principalmente porque tem sido um assunto muito comentado nas redes sociais ultimamente. Parabenizo pelo texto! Agora, em relação à relativização desses fetiches, fiquei refletindo sobre a possibilidade desse fetiche em particular se popularizar. Talvez seja interessante explorar esse aspecto, mas confesso que não tenho uma opinião definitiva. Gostaria de apresentar um argumento para você comentar, apenas para enriquecer a discussão para os leitores. Talvez seja proveitoso separar esses fetiches de parafilias, já que essa distinção parece existir, e isso poderia ser um caminho para evitar a relativização total. No entanto, reconheço que posso estar sendo excessivamente moralista ao abordar o assunto dessa forma. Acredito que seja uma questão interessante, especificamente porque parece estar…

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Interessante a forma como o texto te provocou, Marcos. Acho difícil que um fetiche assim se popularize, mas se sim, um dialogo antes do ato resolve qualquer interpretação equivocada, afinal, é assim que se faz com os outros fetiches mais populares. Acredito que você tem razão, abordar o assunto de fetiches a partir de uma perspectiva parafílica é moralista, uma vez que, existe distinção entre os conceitos e no texto eu não me refiro a parafilias para falar de fetiches, nem a falta de consentimento e crimes sexuais. Mas é interessante o seu pensamento. Vale pontuar que não necessariamente os fetiches (ou este) estão relacionados diretamente com a infância, isso é algo relativo, varia de contexto para contexto. Obrigada pelo…

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carlosobsbahia
carlosobsbahia
Jul 12, 2023

Sobre esse assunto,um livro com mais de 500 páginas falando dessa temática deve ser avaliado em seu conteúdo,e não formar valores sobre seu autor,se ele é ator infantil,etc. O fato dele expor isso não diz nada sobre ele,mas como a sociedade encara a discussão sobre fetiches esquisitos ou não.

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Justamente a noção da hipocrisia e da repressão sexual quando falamos sobre fetiches. Mas é que nem o orifício anal: todo mundo tem, não necessariamente todo mundo descobre como usar, mas sempre tem alguém pra julgar quem usa.

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