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QUANTO MAIS CRÍTICO MELHOR - porque a lógica acadêmica tem o incrível poder de encher o saco




Não foi nem uma nem duas vezes que presenciei coisas assim durante meus 16 anos de convivência com a universidade. O estudante realiza seu trabalho de pesquisa e se prepara para apresentar para os órgãos avaliadores. Como todo estudante, o trabalho não está perfeito, daí iniciam-se as chuvas de críticas.


Basta um professor que na página 20, linha 4, há uma falha. Temos então um start na competição entre os doutores sobre quem é mais foda, a métrica é na base de quem consegue criticar com mais veemência o trabalho do aprendiz. Chega uma hora que não é mais sobre melhorar o trabalho do graduando, mestrando ou doutorando, mas sobre o prazer diabólico de cientistas conceituados em detonar aquele que se submete. O gosto sublime de apontar o dedo e oprimir o lado mais fraco. Isso é tão violento, que por muitas vezes pensei que o bom cientista é aquele que consegue apontar mais erros nos trabalhos dos outros. E apesar de tentar vestir essa capa por um tempo, percebo que não tenho talento para tal atividade. Sou péssima em ver defeitos, uma completa incompetente para criticar com prazer.


Eu gosto mesmo é de dar sugestões.


Quando eu vejo um trabalho em desenvolvimento, uma chuva de ideias chegam na minha cabeça. Caminhos vários... tenho até vontade de fazer junto, ver o negócio dando certo, tomando corpo. Para mim, pesquisa boa é aquela que tem uma porção de desdobramentos para serem aprimorados e investigados. Afinal, se tudo estivesse pronto, em seu perfeito estado de conclusão, cientistas seriam totalmente desnecessários.


Por ter essa postura, tenho percebido que as pessoas não me dão muito crédito como pesquisadora. Não sou criticamente foda e, sendo bem sincera com vocês, toda essa lógica demonizadora de erros me deixou de saco cheio. Eu cansei de tudo isso, de ter que vestir a capa da doutora o tempo inteiro. Chato. Isso não tem gerado nada de bom ultimamente, além de pesquisadores adoecidos, estudantes acelerados e uma vida triste.


Não escolhi a pesquisa para ser triste, escolhi esse caminho para ser feliz. Mas não é isso o que vi acontecer comigo nos últimos anos.



Assim como todo artista tem de ir aonde o povo está, como cientista quero estar com o povo, não presa aos moldes de um laboratório. Quero fazer Ciência como Jorge Ben canta sua música, com a paz, com o amor, com a sugestão. O que será que há de errado nisso?


Take It easy. O caminho não deveria ser tão sofrido.


Um dia olhei para o lado e vi a pesquisa nas ruas, nas praças, na quadra, debaixo do cajueiro e percebi que a mosca da Ciência seguirá comigo em qualquer lugar que eu chegue. Mas vejo, quase como um dever geracional, que é preciso repensar a lógica academicista de produção de conhecimento.


Tenho seguido por esse lado.


Pode ser que minha reviravolta não dê em nada, pode ser que dê em algo muito bom. Mas quaisquer que sejam as minhas possibilidades, é preciso começar a correr trecho. Dessa vez, caros leitores, minha escrita carece de fontes, mas transborda de satisfação.


______




2 comentarios

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Áurea Añjaneya
21 mar
Obtuvo 5 de 5 estrellas.

Maravilha!!!!

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Muito bom texto! Uma crítica louvável a certos comportamentos acadêmicos.

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