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Foto do escritorThiago Araujo Pinho

POR QUE NÓS DAS HUMANAS OPINAMOS SOBRE TUDO, ATÉ SOBRE ISRAEL E PALESTINA?




Eu sou das ciências humanas, caso você não me conheça. Prazer, meu nome é Thiago Pinho, sociólogo de formação, ufbiano em cada fibra desse meu corpo. Banhado pelas águas turvas da hermenêutica da suspeita, desde debates estruturais e sistêmicos, passando por viagens discursivas e pós-estruturantes, aparentemente eu posso escrever sobre qualquer coisa, certo? Errado!!!. Semana passada reservei minha quinta-feira ao soteroprosa, na esperança de produzir um ensaio sobre o novo conflito entre Israel e o Hamas. Depois de algumas linhas, e de toda uma empolgação inicial, um tipo de choque tomou conta do meu corpo, saindo da ponta do meu dedo do pé e chegando até o mais longo fio de cabelo: “Peraí, o que eu estou fazendo? Esse não é meu objeto de pesquisa, meu nível de conhecimento na área é muito pequeno. As informações coletadas por mim se resumem a migalhas derramadas por plataformas digitais, meros clichês circulando pelos algoritmos alucinados, como, por exemplo, “os Estados Unidos são imperialistas”, “O governo de Netanyahu comete vários crimes” e algumas informações históricas dispersas. Isso é o suficiente mesmo em uma análise razoável? Afinal, eu não tenho a mínima ideia da complexidade do tema, muito menos das experiências concretas de corpos reais, mas algo dentro de mim queria falar, precisava falar, mas por que? De onde surgiu esse desejo, esse sentimento de que sou “O Crítico” e o responsável por analisar cada contorno dos dilemas humanos? De onde brotou essa arrogância que de vez em quando escorre das brechas da minha linguagem, liberando um cheiro desprezível, mas atraente?


Em áreas paradigmáticas (mais sólidas), como a biologia e a química, os precipitados, os imprudentes, são sempre punidos, mas nas áreas de humanas não é bem assim. Sem a existência de alguma objetividade mais clara, ou muitas vezes sufocadas por infinitas piruetas pós-estruturais, em um relativismo perigoso, nossa área parece um tipo trágico de vale-tudo. Além disso, como nos definimos pela crítica, sendo não apenas um simples instrumento provisório, mas todo um suporte identitário, criticamos mesmo sem recursos de crítica, criticamos porque é o nosso papel, criticamos porque nos dá tesão. Da mesma forma que nas portas do inferno de Dante uma frase surpreendia os nossos protagonistas (“Perca vossa esperança vós que aqui entrais”), algo equivalente acontece em nossos espaços universitários, embora no sentido oposto ao testemunhado por Virgílio e Dante: “Ganhe toda esperança vós que aqui entrais, Ó CRÍTICO”, essa é a frase estampada nos cursos de Humanas.


Ao longo da última quinta-feira, eu percebi em mim um desejo esquisito de análise, uma vontade de investigar algo que não domino, ou, pelo menos, não o suficiente. Por que parece tão difícil dizer “Eu não sei!!”, enquanto nos laboratórios de engenharia essa é uma das frases mais usadas? Você nunca vai ver um matemático fazendo um ensaio sobre os fundamentos químicos do quartzo, ou um físico escrevendo um ensaio sobre religião. Em geral, essas áreas tem um contorno metodológico muito claro, assim como uma consciência sobre até onde podem ir. Mas quando invadimos as fortalezas brilhantes das ciências humanas e sociais, a impressão é que o céu é o limite. Na verdade, talvez nem mesmo o céu me intimida, o hermeneuta da suspeita, o crítico dos críticos, o sujeito liberto da caverna platônica, em seu livro 7 da "República". Aparentemente, nós podemos escrever sobre tudo, desde a arte, ciência, religião, passando pelas tretas do Twitter, dos dilemas amorosos de um casal aleatório, de conflitos políticos e de crises ambientais. Podemos até escrever sobre o físico, e sua ciência ideológica, ou sobre o artista, e sua busca por capital simbólico, ou a religião, e seus ópios perigosos. Não existe limite até onde eu posso ir... NÃO ME CENSURE!!!!


Diante do que eu disse até agora, e levando em conta os conflitos entre Israel e o Hamas, eu tenho apenas uma coisa a dizer, um simples ensinamento, talvez o mais importante que aprendi até hoje nessa minha vida de sociólogo: “EU NÃO SEI”!!! Da mesma forma que o “memento mori” é um lembrete aos mortais arrogantes de que a vida é breve e tão instável, um simples fluxo transitório de acontecimentos em um universo complexo e quase indiferente, “EU NÃO SEI” acaba sendo também uma poderosa mensagem a mim, a nós, os “CRÍTICOS”, os “SÁBIOS”.


REFERÊNCIA DA IMAGEM


https://brasilescola.uol.com.br/geografia/o-conflito-na-palestina-faixa-gaza.htm



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3 opmerkingen

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Robério Brito
Robério Brito
20 okt. 2023
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Ótima análise.

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carlosobsbahia
carlosobsbahia
19 okt. 2023

Muito bem,Thiago. Um texto onde falou e não disse,ahahahahahahahahahahaha...

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Thiago Pinho
Thiago Pinho
19 okt. 2023
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kkkkkk

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