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POR QUE MATAR JESUS NOVAMENTE PARA COROAR DAVI?





Ao longo das décadas, as igrejas neopentecostais têm desempenhado um papel vital na vida espiritual de milhões de pessoas ao redor do mundo. No entanto, nos últimos anos, tenho observado uma mudança significativa na maneira como essas comunidades interpretam e adotam modelos de exemplo para seguir em sua jornada espiritual.


Por muito tempo, Jesus Cristo tem sido o centro das crenças cristãs, um farol de amor, compaixão e perdão que guia os fiéis em sua busca pela santidade e redenção. Sua vida e ensinamentos, registrados no Novo Testamento, têm sido uma fonte de inspiração e conforto para inúmeros seguidores ao longo dos séculos. No entanto, em um movimento que desafia as tradições estabelecidas, algumas igrejas neopentecostais têm mudado seu foco para Davi, uma figura complexa do Velho Testamento, como um modelo a ser seguido - que não é baiano do imponente e diverso bairro de Cajazeiras e não está confinado na “casa mais vigiada do Brasil”. A transição de Jesus para Davi como objeto de adoração levanta questões profundas sobre a natureza da fé e sua relação com o poder e a violência. Enquanto Jesus personifica valores de humildade, serviço e amor incondicional, Davi é retratado como um líder militar, um conquistador que utilizou a força e a astúcia para alcançar seus objetivos. Sua ascensão ao trono de Israel está manchada por intrigas, traições e derramamento de sangue. Ao adotar Davi como modelo, as igrejas neopentecostais mostram que a ideia do foco em Cristo, Novo Testamento e na prosperidade, que antes tinham, talvez não dê mais lucro e assim abraçam uma visão distorcida da espiritualidade, uma que glorifica o poder terreno e a violência em detrimento dos princípios fundamentais do Evangelho.


A figura de Davi, com todas as suas contradições e falhas, pode servir como uma justificativa conveniente para a busca pelo domínio e a imposição de vontades. Além disso, a elevação de Davi como ícone espiritual pode alimentar uma cultura de alienação e autoritarismo dentro das comunidades religiosas, como vemos constantemente em ataques coordenados, proferidos por fiéis, contra “inimigos” criados pelos seus líderes. Ao invés de promover a liberdade e a diversidade de pensamento, a adoração a uma figura centralizada pode sufocar a individualidade e restringir a expressão espiritual genuína dos fiéis.

O culto à violência também é uma preocupação que surge dessa mudança de paradigma. Enquanto Jesus pregou a paz e a reconciliação, Davi é frequentemente associado à guerra e à conquista. Ao fazer de Davi um modelo a ser seguido, as igrejas neopentecostais correm o risco de legitimar uma visão beligerante do mundo, onde a violência é justificada em nome da fé e da proteção dos interesses religiosos.


Em meio a essa mudança de paradigma, é essencial que os fiéis e líderes religiosos responsáveis e que possuem uma ligação mais direta com sua comunidade estejam alertas para as implicações éticas e espirituais desse movimento. É crucial que continuem a questionar, a refletir e a buscar orientação divina para discernirem sobre os verdadeiros ensinamentos do Evangelho.


Sobre esse plano de domínio das mentes enfraquecidas pelas frustrações e desorientadas pelo medo, é preciso que a sociedade ainda lúcida se levante contra a junção, cada vez mais descarada, das “religiões do capital” com a política e consequentemente o Estado. Esse poderá ser o início do fim, pelo menos no Brasil, da esperança de um país ordeiro e que vise o progresso, como escrito na sua bandeira tantas vezes sequestrada.

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