Estava eu numa festa de aniversário anos atrás, numa tarde de sábado. À medida que a noite avançava, ficou apenas “a diretoria” no local. O aniversariante então colocou “Out of Time”, do R.E.M, e foi uma cantoria daquelas, num clima “shine happy people holding hand”. Logo após, finalizamos num barzinho ao lado onde o irmão dele levou um violão e mandou mais uma saraivada de R.E.M. Nunca tinha notado o quanto as músicas do grupo eram fáceis e agradáveis de cantar!
Semana passada, entrei em contato com ele para lhe dar os parabéns e lembramos daquele momento. Ao reavivar as lembranças, fui ouvir o disco, coisa que não fazia há tempos. O resultado foi a audição de clássicos do grupo durante o sábado e domingo. E aí não deu outra: fiquei a semana inteira cantarolando. Lendo um livro, trabalhando, caminhando, tomando banho, fritando ovo... Era só dar uma relaxada e lá vinha versos e refrões assaltando a mente. Precisava exorcizar essa overdose de R.E.M. E pensei em fazer um vídeo, mas como não tinha viabilidade pra isso, escrevo esse texto pra falar um pouco desse discaço!
O R.E.M. (olha, não sei se quem tem menos de 20 anos conhece o grupo, então vou passar a pronúncia: A-ri-em. Pra falar, carregue um sotaque inglês) surgiu nos Estados Unidos em 1980 e até 1989 já havia lançado seis discos, mostrando uma produção pujante. Em 1991, eles lançaram “Out of Time”. Parecia que o disco destoava de tudo que rolava naquele momento, mas não foi isso que aconteceu.
Nesse ano de 1991 foram lançados os seguintes discos: “Blood Sugar Sex Magik”, reverenciado álbum do Red Hot Chilli Peppers; “Black Álbum”, Mettalica, considerado um clássico da banda; “Use Your Illusion”, aguardadíssimo – na época – álbum duplo do Guns N’Roses; “Ten” aclamado primeiro disco do Pearl Jam; “Nevermind”, do Nirvana, que dispensa comentários; “Badmotorfinger”, do Soundgarden, que junto com as duas últimas bandas lançavam as bases do movimento Grunge. Com tanto som visceral e boas novidades pra uma nova década que surgia, teria algum espaço pra um disco com cordas, canções suaves, e levadas alegrinhas? A resposta seria até óbvia. Parecia um disco fora do tempo (olha o trocadilho....)
Pois é... O disco ficou 109 semanas no topo dos mais vendidos (vendeu 18 milhões de LP’s, CD’S, e cassetes!) e levou três Grammy Awards. Um fenômeno! Reiterando: competindo com uma trupe da pesada citada acima, pesada no nome e nas bases de guitarras fartas.
Foi nesse disco que surgiu a eterna “Losing My Religion”, inesquecível. “Radio Song” tem um rapper convidado e um suingue que por ora é quebrado por um conjunto de cordas; “Low” é uma baladinha decente; “Endgame” lembra um pouco “Pais e Filhos” e tem uma melodia que remete a saudade de alguém que partiu; e tem as alegrinhas “Near Wild Heaven”, “Texarkana” e “Shine Happy People”, que parecem cânticos de uma manhã de setembro. “Shine Happy People” parece uma música de jardim de infância, mas é pura ironia: alguns versos da música foram extraídos de uma propaganda do governo chinês após o lamentável episódio conhecido como “Massacre da Praça da Paz Celestial”, quando um protesto popular foi encerrado com tanques de guerra e centenas de mortos, em 1989. Ou seja, a canção não tem nada de inocente; “Belong” tem excelente instrumental; “Half a World Away” e seus violões; enfim, é um disco memorável. Fiquei até impressionado de não ter falado desse disco em outra oportunidade, no extinto IGTV.
Encerraram as atividades em 2011. Ao longo da carreira, o R.E.M. lançou várias canções excelentes pra tocar e cantar, e quando você escuta tem a impressão que o grupo teve pouco trabalho pra formulá-las. Eles nunca bancaram os virtuoses, não há ninguém ali que possa ser relacionado como “melhor guitarrista” ou baterista, nessas listinhas que sempre pintam por aí. Sempre foram muito consistentes e depois de 30 anos, terminaram com a mesma formação de sempre.
Se eu pudesse colocar no tabuleiro, não seria das minhas bandas favoritas, mas as músicas deles são muito chicletes, velho, quando você começa a ouvir, pra parar dá trabalho. “The One I Love”, “Orange Crush”, “Drive”, “All The Way to Reno”, “Everybody Hurts” (que virou tema da ONG Médico Sem Fronteiras, num famoso comercial, interpretada pela banda The Corrs) ... No Rock In Rio de 2001, mesmo com Foo Fighters, Guns N’Roses, Oasis, Iron Maiden, Red Hot, e o escambau, o show deles foi considerado um dos mais célebres daquela edição.
Bom, espero que depois desse texto eu volte a apreciar a miscelânia de artistas que guardo na minha play list. Mas não sei se vai dar. Já estou encerrando por aqui e não paro de cantar “Oh life is bigger / It's bigger than you / And you are not me...
FONTE:
Que texto gostoso de ler! Trouxe toda a nostalgia, sem cair na lamentação. Exaltou o tempo das canções e qualidade da banda! Não sabia de várias curiosidades trazidas. Eu já amava demais REM pelas músicas e posicionamentos políticos - lembra do Free Tibet?, agora amo mais ainda com essas novas informações. Valeu demais!