Depois de tanto sofrimento e isolamento no auge dos casos de pandemia de Covid-19, finalmente estamos em uma situação melhor para que o Carnaval brasileiro possa ser realizado da forma como estávamos acostumados: com muita festa e multidões de foliões espalhados pelo país.
O carnaval, além de ser uma das festas mais emblemáticas da cultura brasileira, tem um papel significativo na identidade e na vida social do país. Seja com escolas de samba, blocos de rua ou qualquer outro tipo de festa e manifestação musical realizada nesta época do ano, o Carnaval tende a aproximar as pessoas e assim acaba sendo uma das maiores expressões da diversidade cultural do nosso país.
Com a interferência da Indústria Cultural e o interesse pelo potencial econômico por trás deste evento, a geração de empregos nesta época do ano acaba sendo substancial na renda das comunidades locais, sendo importante até mesmo para os mais empobrecidos e marginalizados devido ao funcionamento do sistema capitalista, mas para que isso ocorra é necessário que os atores envolvidos no planejamento do carnaval, atores estatais e não estatais, estejam dispostos a construir um carnaval mais inclusivo e democrático, com oportunidades reais para quem quiser fazer uma renda extra durante este período.
Sabemos que não existem condições iguais e que nem sempre isso acontece, mas ao contrário dos exemplos elitistas empreendidos por empresas ou até mesmo gestões públicas que parecem atender apenas grandes empresas, uma gestão pública voltada para a promoção do carnaval de rua, por exemplo, acaba trazendo mais oportunidades para essas pessoas.
Outro ponto forte do carnaval é o potencial turístico, entre brasileiros e turistas internacionais, o carnaval brasileiro chama a atenção do mundo e muitas pessoas saem para visitar o país nessa época, nisso, essas pessoas querem pular o carnaval ao mesmo tempo que conhecem tudo o que as cidades e espaços culturais têm a oferecer. De fato, o Carnaval é um importante motor econômico para o país.
Assim, hotéis, restaurantes, bares, lojas, empresas de transporte acabam se beneficiando com o aumento de visitantes durante a grande festa, gerando empregos e renda para as comunidades locais. Tudo é circulação de dinheiro, desde a confecção das fantasias até a confecção dos instrumentos musicais que serão utilizados, tudo isso envolve um grande número de trabalhadores e empresas que se dedicam o ano todo para fazer o carnaval acontecer. São vários os setores e a geração de empregos que podem ser beneficiados nessa época do ano.
Temos os casos clássicos das capitais carnavalescas brasileiras, como Recife e Olinda; Salvador; São Paulo; Rio de Janeiro e Florianópolis, que, à sua maneira, acabam sendo os principais atrativos turísticos para quem quer curtir o Carnaval, e que, portanto, acabam sendo as cidades que mais lucram com esses eventos, movimentando a economia local, mas é importante destacar que o carnaval também traz benefícios para cidades pequenas e interioranas, além do acesso à cultura para pessoas da comunidade, e a promoção de empregos temporários e promoção do turismo como acontece nas grandes capitais (embora em bem menores proporções), o carnaval de uma cidade pequena pode lidar com um problema que essas cidades tendem a ter: a falta de oportunidades de inclusão social e carência na promoção da diversidade.
Por isso, na construção de um projeto cultural como esse, é importante valorizar as culturas locais e não apenas tentar “imitar” o que se faz nas grandes cidades. As tradições locais podem ser valorizadas, adaptadas e promovidas, gerando benefícios de longo prazo para a sociedade. Em cidades como essas também existe aquele problema de achar que não se tem muita diversidade, quando na verdade existe e essa diversidade é apenas mais severamente ignorada, então o carnaval, por exemplo, pode ser um momento importante para promover a inclusão de grupos marginalizados, como comunidades quilombolas, povos indígenas, pessoas com deficiência, população LGBTQIA+, entre outros.
Essa inclusão social e a promoção da diversidade cultural podem ser alcançadas com a integração desses atores sociais na organização de desfiles, blocos de rua, e as demais atividades culturais que possam ocorrer durante o carnaval, dentro dessas atividades podem ser trabalhados diferentes elementos culturais para dar visibilidade também aos elementos regionais, valorizando assim diferentes expressões culturais e fazendo com que as comunidades locais se sintam incluídas e representadas no planeamento da cidade. Outra ação conjunta imporante é usar o carnaval para combater a discriminação, aproveitar a oportunidade para impulsionar pautas sociais em desfiles e eventos, promovendo a conscientização da luta por maior igualdade e justiça social.
O carnaval já é grandioso e pode ser ainda mais se contar com esforços reais para a realização uma manifestação plural e diversificada que possa servir como uma importante ferramenta democrática na promoção da inclusão social e da diversidade, deixando de lado a simplicidade de apenas organizar festas hegemônicas e assumindo o compromisso de desenvolver um evento complexo, com diversos objetivos a serem alcançados.
Link da Imagem: https://jornaldr1.com.br/2023/02/carnaval-inclusivo-permite-que-pessoas-com-deficiencia-caiam-na-folia-por-todo-o-pais.html
Referências:
AFONSO, Juliana. O carnaval, a política e a reconquista da cidade. Jornal O Beltrano, 2017. Disponível em: https://www.obeltrano.com.br/portfolio/o-carnaval-a-politica-e-a-reconquistaa-cidade/. Acesso em 18/02/2023.
DaMATTA, Roberto. Carnavais, malandros e Heróis: para uma sociologia do dilema brasilero. Rio de janeiro: Rocco, 1997. Disponível em: <https://comunicacaoeesporte.files.wordpress.com/2010/10/28211389-roberto-damatta-carnavais-malandros-e-herois.pdf>. Acesso em 18/02/2023.
RIBEIRO, Jussélio Rodrigues; MOURAO, Luciana. Carnaval como instrumento de inclusão social de pessoas com deficiência. Estudos e Pesquisas em Psicologia Rio de Janeiro, v. 16 n. 3 p. 736-756, 2016. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/pdf/epp/v16n3/n16a05.pdf>. Acesso em 18/02/2023.
Vc soube que, até então, esse Carnaval teve uma queda drástica nos índices de roubos e importunação sexual? Estou intrigada para saber quais fatores inteferiram nesses últimos anos para chegar nessa situação.