Lewis Hamilton tem uma trajetória de sucesso. Começou a correr de kart aos 10 anos, sendo observado desde então, até ser campeão da GP2 em 2006. Estreou na Fórmula 1 em 2007 e no ano seguinte, viria o primeiro dos seus sete campeonatos conquistados. Ao lado de Michael Schumacher, o inglês detém maior número de títulos, sendo um dos grandes pilotos de todos os tempos. Lembrando que teve uma infância humilde, ao contrário da maioria de seus colegas de pista, e é desde então o primeiro e único piloto negro, uma referência para milhões de garotos pobres ao redor do planeta.
Esse currículo não é nada suficiente para o automobilista escapar do racismo. Uma entrevista com o ex-piloto e tricampeão mundial Nelson Piquet, revelou uma fala medonha e abjeta. Durante um podcast gravado em 2021, ele refere-se a Hamilton como “neguinho”, ao comentar sobre um acidente que envolvia o atual campeão Max Verstappen, no GP da Inglaterra. Na ocasião, Hamilton foi punido por provocar uma colisão e ainda venceu a prova. Piquet tomou as dores do genro (Verstappen namora com a filha dele, Kelly) e mandou essa carga preconceituosa.
O que deixa a situação ainda mais triste foi o total destrato com o heptacampeão. O brasileiro se referiu a ele como um zé qualquer, como se Verstappen estivesse disputando com um desses pilotos que ninguém lembra o nome, um retardatário, alguém que passaria na rua sem se dar conta de que teria dirigido um carro de Fórmula 1 alguma vez na vida. A expressão racista parece mais um menosprezo pela cor de Lewis, um individuo que quando não suja na entrada, suja na saída, como costumam “brincar” por aí.
Piquet é lembrado como um sujeito esquentado, brigão, boquirroto, desafeto de Ayrton Senna, e atualmente bolsonarista roxo. Foi ele quem conduziu o atual presidente no Rolls Royce presidencial no dia 7 de setembro de 2021, naquele quase-golpe. Ele sempre costuma falar mal de antigos companheiros de pista, mas dessa vez a coisa foi bem mais séria. Reduziu Hamilton a uma pigmentação dermatológica.
Pra piorar, surgiu mais uma parte desse espetáculo de baixaria que foi essa entrevista concedida ao “Motorsports Talks”, um canal do Youtube. Falando mal do campeão mundial Nico Rosberg (cujo pai, segundo Piquet, era “um bosta”) disse que pra ele ter conquistado tal título, Hamilton deveria estar “dando o cú”. Homofobia, racismo.....Piquet tá bem de preconceito.
Apesar das manifestações da Federação Internacional de Automobilismo, da equipe Mercedes de Fórmula 1, e de vários pilotos, e do próprio Hamilton, que afirmou – em português - que “mentalidades arcaicas têm de mudar”, repudiando tal fala, essa praga não vai acabar tão cedo. As redes sociais são pródigas em manter acesa a chama infinita das discriminações. Os simpatizantes do atual presidente da República replicam diversas asneiras já faladas e emendam outras tantas. Tanto que há quem defenda Piquet nesse episódio! Uma comentarista cubana – que trabalha “naquela rádio que virou TV” – falou que se a fala de Piquet foi racista, “não deveríamos nos referir a Neguinho do Samba com esse termo”. Depois, mandou uma inacreditável: “ele é tão negro que na escuridão a gente só vê a gengiva”. Ela não sabe diferenciar um nome histórico de um artista e um termo pejorativo dirigido a uma celebridade do esporte.
Piquet pediu desculpas, afirmando que o termo “neguinho” é utilizado em nosso idioma para se referir a “cara” ou “sujeito” e que não teve intenção de ofender. Risível. Um heptacampeão mundial disputando posição com um adversário é qualificado como “um sujeito” da rua? Fala sério!!!
Hamilton permanece nas pistas, na luta por quebras de recordes e respeitado por muita gente. No Grande Prêmio de São Paulo realizado em Interlagos em 2021, foi quase tratado como brasileiro. Levou muitos às lagrimas ao vencer heroicamente a corrida e ser aclamado pela multidão. Hamilton é um grande fã de Senna e apareceu enrolado na bandeira brasileira, arrancando aplausos e gritos de euforia. Já Piquet....iremos aguardar a próxima dele. Sua fama será de polemista. Assim como o presidente que ele idolatra.
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