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Foto do escritorCarlos Henrique Cardoso

O Gambito da Rainha: Uma mulher no comando do xadrez

Você já jogou xadrez? Tem interesse no jogo? Sinceramente, não me recordo de ter jogado algum dia. Não sou chegado a partidas diante de um tabuleiro... Mas tem muita gente que não só é “fãzaço” como pratica e compete com total afinco e determinação, podendo ficar horas e horas jogando. Essa conhecida disputa de mesa surgiu no século VI, na índia, porém, se expandiu para China e Pérsia – foi neste último local que a palavra “Shah” (rei) deu origem ao nome. Sua forma atual e regras surgiram na Europa, no século XV. As partidas são verdadeiras estratégias de conquista, tanto que as competições se tornaram mais sérias e surgiram torneios internacionais já no século XIX. Ocorrem até Olimpíadas dessa jogatina, realizada a cada dois anos, organizadas pela Federação Internacional de Xadrez. O atual campeão mundial é o norueguês Magnus Carlsen.


O mote do jogo é o enquadramento do Rei (Xeque-Mate), peça mais importante. A ordem e disposição no tabuleiro é hierárquica: os peões são os primeiros a serem sacrificados, até serem retirados bispos, torres, cavalos e demais peças. Sendo puro raciocínio lógico, é empregado como suporte pedagógico em cursos de matemática.


Todo esse “trololó” inicial é uma indicação para a audiência da Minissérie “O Gambito da Rainha”, em exibição na Plataforma Streaming Netflix, com 7 episódios. O título dessa pequena saga refere-se a um lance na abertura da partida, quando o jogador utiliza a tática de forçar o oponente a mexer uma peça e assim cair num truque. O termo gambito significa “perna curta”. É como se estivesse dando uma rasteira no adversário. O próprio jogo e suas convenções é um dos principais enfoques, capitaneado pela carreira da enxadrista Beth Harmon, uma órfã que se apaixona pelo xadrez e aprende a jogar de maneira insólita. A construção da personagem, do orfanato rígido onde ela morava até o torneio mais importante da sua vida, é o que dá ritmo à curta série.


A trama se passa entre sua infância nos anos 1950 e o auge na década seguinte. É emblemático acompanhar a saga da presunçosa mocinha a partir de tímidos campeonatos municipais, quando ela desperta curiosidades, não apenas pelo seu talento, mas sobretudo pelo seu gênero: praticamente inexistiam jogadoras que obtinham algum sucesso naquele meio completamente tomado por homens. Ainda mais ela, que jogava com o zelador do orfanato, enquanto grandes cabeças do esporte surgiram nos bancos escolares e universitários.


Destemida e obstinada, Harmon surpreende a todos que enfrenta e chama atenção da imprensa por começar a vencer importantes competidores. Mostra-se chateada por ser referenciada como “menina prodígio” e não como uma enxadrista talentosa. Apesar de se considerar a melhor, sente-se ressabiada à medida que se aproxima o enfrentamento contra o melhor de todos: o russo Vassili Borgov.


E aí entra uma questão geopolítica: o período da trama se passa em plena Guerra Fria, quando americanos e soviéticos disputavam superioridade na tecnologia, indústria bélica, regime político, e no esporte. Os russos eram considerados os melhores enxadristas e vencê-los, questão de honra. E derrotá-los em sua própria terra, melhor ainda (impossível não recordar de um dos filmes que retratam o pugilista Rocky Balboa, que parte para União Soviética encarar o lutador símbolo do Kremlin). Um dos personagens considera que a vantagem dos russos é justamente atuar como equipe, enquanto os norte-americanos seriam individualistas demais. Essa referência à ação coletiva faz diferença em algum momento, pois tudo vai se transformando em mais uma disputa hegemônica EUA X URSS.


Segundo o site da Superinteressante, “O Gambito da Rainha” é a Minissérie mais popular da história da Netflix. Figurou durante duas semanas no topo do ranking da plataforma. A série é excelente para estimular a curiosidade em quem sabe pouco ou quase nada sobre o xadrez. Modalidades do jogo são expostas em cena e podem nutrir alguma motivação para melhor conhecimento. A censura 16 anos atrapalha um pouco (suponho que seja em função do excessivo consumo de álcool e medicamentos), pois deixa fora de cobertura grande parte dos efebos que poderiam se entusiasmar em saborear suas jogadas, ainda mais em tempos de infiltração máxima nas redes sociais da internet e jogos on line a granel. E por fim, refletir nas jovens que poderiam se espelhar em Harmon, uma garota aplicada que coleciona vitórias em um meio altamente masculinizado.


FONTE:


IMAGEM: Instituto de Cinema www.institutodecinema.com.br









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