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O BLOCO "AS MUQUIRANAS" DEVE SER EXTINTO?

Atualizado: 28 de fev. de 2023



Tá no dicionário: Muquirana significa “chato, maçante, enfadonho”. Foi esse o nome dado para o coletivo carnavalesco, exclusivamente masculino, surgido em 1965, que tem como característica principal a utilização de fantasias tipicamente femininas em suas vestes. De lá pra cá, As Muquiranas tornaram-se um bloco bastante conhecido por sua animação. De fato, os foliões dessa agremiação se divertem muito e aproveitam stricto sensu a folia que o carnaval proporciona. Porém, um outro sinônimo para o nome do bloco é “aborrecido”, no entanto, esse adjetivo vai para quem tem criticado duramente as posturas negativas de parte de seus integrantes.


Um vídeo publicado em redes de TV mostra uma mulher sendo repulsivamente assediada por membros do bloco, e só conseguiu se libertar com a chegada da guarda municipal. Isso gerou uma onda de denúncias provindas do público feminino sobre o comportamento indolente das Muquiranas, que durante anos vem fazendo jus à nomenclatura, afinal, perturbar e provocar – em alguma medida – faziam parte do clima momesco naqueles longínquos anos 1960 quando o bloco surgiu. Mas o panorama da festa tem mudado muito e a intolerância às brincadeiras do bloco estão por um fio, tanto que já tem gente que não quer conta com punições mediadoras aos agressores: prega a extinção do grupo! Será esse o caminho?


Havia em Salvador os blocos de índio e sua fama era péssima. Todos corriam quando se davam conta que eles se aproximavam. Usavam machadinhas e até paus com prego! A violência ficou mais conhecida que a fantasia e assim foram se desintegrando até desaparecerem. Esse é um caso típico de que extrapolar o divertido pode ter consequências graves. No caso das Muquiranas é o assédio às mulheres, principalmente após adotarem pistolas que atiram “água” na galera (nem sempre é água.....).


O presidente da agremiação informa que são distribuídas juntamente com as fantasias folhetos educativos, recriminando cercos, assédios, e demais práticas reprováveis. Um dado importante é que o bloco NÃO distribui as pistolas, ou seja, parece ser um elemento externo obtido por filiados avulsos, transformando-se em tradição. Já podemos inferir algumas questões.


Se As Muquiranas são conhecidas por essas condutas insolentes, por que o bloco não sofreu represálias anteriores? Será mesmo que órgãos de denuncia e fiscalização não tomaram nenhuma atitude esses anos todos? E aí em pleno 2023 pipoca uma ação acusatória vinda de várias frentes, inclusive pedindo a extinção do coletivo? Se a direção distribui panfletos com ação educativa, logo há manifestação preventiva para redução de danos a outros foliões. Então caberia ao Ministério Público ou outro órgão firmar ajustamentos de conduta em conjunto para redundar numa série de regulamentos que os filiados teriam que cumprir. Logo, escreveu, não leu, o pau teria que comer (sem trocadilhos carnavalescos, por favor). E aí poderiam ocorrer aplicações de multas, apreensão das pistolas, expulsão de filiados, ou até mesmo castigar a agremiação proibindo-a de desfilar em um dos três dias que ela vai às ruas. Agora, deixar de lado as preocupações que o poder público teria que cumprir pra decidir que o bloco deveria ser eliminado dos mapas do circuito? É isso mesmo? Já ocorreram hashtags e há petições solicitando o seu cancelamento (a vítima do vídeo é uma das requerentes), vereadoras se pronunciaram veementemente pedindo discussão séria sobre isso. Porém, reitero que um bloco que irá completar 60 anos daqui há dois carnavais não tenha sido já interditado no decorrer do processo por diversos assédios em sua trajetória, mostra que o problema não estaria exclusivamente na conduta dos integrantes.


Não endosso de maneira alguma a justificativa de extinção do bloco no calor do momento, ou até mesmo por achar que o grupo há muito perdeu a noção da brincadeira e só pensa em assediar, já deve ser fechado, afinal, não tenho nenhuma unidade de medida que possa comprovar isso. Se isso for levado em conta, outras polêmicas darão ensejo a pedidos de extinção. Exemplo: em 2024 aparecem denúncias de que alguns trajados com roupas do Filhos de Gandhi estariam colocando colares e beijando mulheres a força. Qual seria a solução? Extinguir o Gandhi? Proibir o colar? O problema tá no colar? Tá na “magia” da fantasia do Gandhi? A pipoca de Kannario teve uma briga generalizada. Solução? “Tira Kannario do carnaval”. Coloca Andrea Bocceli no lugar que ninguém mais briga! Fato é que uma gravação de vídeo revirou as atenções sobre a agremiação, no entanto, pedir extinção agora é agir no calor dos acontecimentos sim! E que o Ministério Público – mais tarde do que nunca – tome as providências que cabem legalmente a isso, e não atendendo pedidos baseados no querer dos indignados após N assédios ocorridos em carnavais passados!!


Já falei enésimas vezes sobre campanhas contra o assédio que vem dando resultado (“Não é não”, “Respeite as Mina”), inclusive as mulheres – pelo segundo carnaval consecutivo – vem bebendo mais que os homens (número de atendimentos de alcoolemia em postos de saúde instalados nos circuitos) o que aponta estarem mais à vontade para isso. Isso deve ser ainda mais reforçado, inspirando outras ações educativas. Por fim, há situações que também devem ser mais bem observadas. A organização deixou a desejar esse ano com atrasos absurdos nas saídas de trios, ausências não esclarecidas, demora em atendimentos de foliões, e desordens de localização. Aproveito o espaço pra informar que várias pessoas reclamaram nas redes sociais sobre o excessivo número de foliões espremidas entre os trios de Saulo Fernandes e do Psirico (obs.: eu estava lá!!) porque faltou fiscalização de espaço de um trio para o outro (o trio do Psirico se movimentava e empurrava todo mundo pra frente, enquanto o trio de Saulo estava parado!), o que poderia gerar uma tragédia (muita gente passou mal). Mas uns bacanas podem dar uma boa solução. “Poderia haver a extinção da Pipoca de Saulo, né?”.


FONTE:




4 commentaires

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Carlos, você não comenta sobre a predominância de policiais no bloco. Vi que essa foi uma pauta levantada sobre a extinção porque muitos afiliados se safam de punição por conta de seus cargos...

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Daniella Adorno
Daniella Adorno
02 mars 2023

Houve agressão a uma mulher no bloco do Bell Marques, esse também deveria ser extinto.

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Alan Rangel
Alan Rangel
25 févr. 2023
Noté 5 étoiles sur 5.

Rapaz, eu não tenho problema se algum dia esse bloco se extinguir. O carnaval não vai acabar por causa disso, pois é muito maior.

Tradições não são imutáveis, e tem coisas que com o tempo acabam ficando dispensáveis. Mas, entendo sua preocupação em manter a tradição, como um patrimônio importante. A ver se medidas mais eficazes serão feitas para o próximo ano. Eu sinceramente acho que não. Enfim...

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Jorge A. Ribeiro
Jorge A. Ribeiro
25 févr. 2023

Achei pertinente a sua reflexão, dado o calor do momento e a avalanche de denúncias formais e informais sobre as transgressões cometidas pelos integrantes do bloco. Eu sou meio suspeito pra falar, até porque carnaval não é nada minha praia, e até pedi extinção do bloco mais porque pra mim trata-se de um bloco dispensável pro carnaval de Salvador. Temos atrações suficientes e penso que esse bloco não faria falta nenhuma se fosse extinto. Mas, saindo um pouco da minha caretice (rsrs), acho que a suspensão de 1 dia ou 2 de desfile ou até mesmo a limitação da quantidade de pessoas no bloco já serviriam como uma medida inicial para provocar o bloco e a institucionalidade responsável pelo carnaval…

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