A frase é antiga, por isso todo mundo sabe: “O respeito é bom e eu gosto!” Da mesma forma, poder atravessar as horas sem discussões é indiscutivelmente melhor. Contudo, é importante aqui uma alerta. Esse é o nível 01 de um machista. Eles arregalam os olhos, gritam e afirmam com o peito inflado: - Me respeite e não discuta comigo!
Se você o questionar sobre o porquê, não se admire. Ele não vai mencionar “sou um ser humano”, “Sou mais velho/experiente que você”, afinal quando um machista grita por respeito ele acha que você deve demonstrar isso apenas porque a ele foi concedido o direito de ser homem.
A história de qualquer nação comprova que o protagonismo sempre foi masculino. Em documentos genealógicos, nas pinturas dos museus e em fotografias antigas é o homem que sempre aparece como um ser a quem se deve honra, e assim caminha a humanidade “com passos de formiga e sem vontade” para compreender que respeito é um direto de todos e que se você acha que o pôr do sol na foto está vermelho e eu acho que é laranja, podemos, sim, discutir sem se agredir. Apesar disso, o que nos revela o Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública? Aumento em casos de estupro, sendo (88,7%) vítimas femininas e aumento de 1,2% em homicídios. Esse relatório com cheiro de sangue, na verdade, comprova que o nível 01, onde parecia apenas um grito de respeito, passa rapidamente para o nível 05: morte. Mas, o que ocorre mesmo entre os níveis 02 a 04?
Bem, essa história todo mundo já conhece. Depois do primeiro grito, ele te faz sentir-se culpada (nível 02), por esse motivo você pede desculpas (nível 03) e dado a isso você se lança em outra situação humilhante, onde se mistura gritos, raiva, tapas, sensação de impotência (nível 04) e... nível 05! Os jornais te colocam nas capas com a manchete “Mais uma vítima de feminicídio no Brasil.”
Sou otimista e acredito que haverá dias melhores, enquanto isso é preciso estar atento ao menor sinal de machismo e “Ponha-se no seu lugar.” Me diz aí se em só ler o que está entre aspas você não se sentiu poderosa como a Beyoncé? Confesso que eu consigo ouvir até a trilha sonora de Crazy in love no ar. Mas, o que de fato significa colocar-se no seu lugar? A obra da gaúcha Geneviève Faé mostra que o lugar da mulher é cercado de abusos, ansiedade, distúrbios de autoimagem, traumas, violência, mas que ainda assim:
“É seu direito mastigar o calendário até que cada quarta-feira seja finalmente digerida
É seu direito estipular que haja um acordo de guerra no meio da paz dele
É seu direito bloquear a estrada e botar fogo na ponte. É seu direto.”
Se você saborear os versos compilados na obra de Faé vai se reconhecer em muitas histórias, se assustar ao se dá contar que já foi assediada e nem sabia e vai aprender a se amar independente no número de visualizações no story e a defender o seu posicionar, afinal “Quando você acredita que o mundo não é seu, você abre mão dele.”
Outro ponto, a salientar, é que a obra citada é para ELAS e para ELES, mas para eles não. Eles não leem. Audaciosa essa afirmação, não é? É isso que querem que você pense. Afinal, seu destino é ficar calada, então se você “fala” com certeza será rotulada como ousada. Esses dias inclusive alguém me recomendou a ficar solteira, pois se alguém como eu casar é certo ter problemas no casamento. No primeiro instante, fiquei pasma, depois compreendi que o machismo não é típico dos homens. Há mulheres machistas. Elas andam por aí aceitando a mordaça só para não ficarem sozinhas. Mal sabem que no planeta também existem homens que mesmo pertencente a uma sociedade que os privilegia, eles não concordam com essa forma de tratar a mulher e, dessa forma, tentam aprender, e a cada dia se esforçam para serem melhores. Aliás, a serem o que devem ser. Homens que respeitam a sua mãe, colega de trabalho, parceiras, vizinhas e amigas.
Ao ler este texto, se concordou com a maioria das linhas, não se espante se te etiquetarem como “louco.” E caso, você seja uma mulher, será mesmo classificada como louca, embora todo o mundo saiba que você é o ser mais lúcido que existe. Não esqueça do que a Geneviéve registrou em sua obra:
“Sou apenas uma agulha, mas não do seu palheiro. Ponha-se no seu lugar.”
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