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MAQUIAR É PODER

Atualizado: 14 de abr. de 2024



“O que você brincou hoje, para outras pessoas, para outros grupos, o nome é violência”, esse foi um trecho da fala de Lumena para alguns dos integrantes do Big Brother Brasil 2021, após uma brincadeira em que os brothers se maquiaram e ficaram imitando trejeitos afeminados e até se auto intitulando com nomes de guerra, esse último, objeto da cultura travesti. Isso causou um incomodo na baiana que é mulher lésbica, DJ e psicóloga, provocando debates dentro do próprio reality show e em redes sociais.


Para algumas pessoas o comentário soou como um exagero, ainda assim, serviu para problematizar a questão, por que homens cis heterossexuais necessariamente precisam imitar trejeitos femininos ao usarem maquiagem? Enquanto pessoas trans, normalmente mulheres trans, utilizam da maquiagem para proferir sua identidade de gênero em busca de uma aceitabilidade interna e externa?


O simples objeto para ornar pessoas exerce um poder identitário muito grande para diversos corpos. Ao ser utilizado como uma aparente brincadeira, esses acabam por ser ridicularizados. Ressalto, o problema do caso não foi o uso maquiagem em si, mas a forma de sua apropriação.


No carnaval, muitos homens cis se vestem de roupas rotuladas como femininas e imitam trejeitos ditos femininos, performando uma travestilidade. Em diversas ocasiões ocorre de maneira desrespeitosa, como é o caso do bloco muquiranas que sai todos os anos nos circuitos de Salvador.


Em contrapartida ao cenário carnavalesco, o Brasil é um dos países que mais mata travestis e transexuais, no ano de 2020 foram registrados 129 casos. Ou seja, a liberdade de ser travesti é apenas a piada do carnaval, quando na realidade, o buraco é bem mais embaixo já que essas existências são marginalizadas.


A maioria das pessoas transexuais e travestis têm dificuldades para encontrar empregos formais, necessitando trabalhar com bicos ou até mesmo se prostituindo, principalmente quando o corpo não apresenta uma passabilidade. Ou seja, o corpo trans, travesti, é lido como o de um homem vestido de mulher ou de uma mulher vestida de homem, o que é extremamente equivocado por se tratar de um existência psicossocial, caracterizando essa leitura como transfobica.


A passabilidade acontece quando a pessoa se aproxima do gênero cis ao qual se identifica, isso pode ser explicado numa frase simples: “Fulana/o parece mulher de verdade.” Como se a mulher ou homem fossem reduzidos apenas aos genitais, aos trejeitos ditos cabíveis ao gênero. Essa pode ser considerada uma frase transfobicos, devido ao teor de dúvida em que se coloca o corpo trans.


A busca pela aceitabilidade de muitos trans pode passar pelo uso de hormônios e a feitura de procedimentos cirúrgicos para a “readequação de gênero.” Infelizmente, alguns procedimentos são executados sem prescrição médica devido ao medo ou a dificuldade de conseguir profissionais que tratem pessoas trans, afinal, mesmo alguns serviços oferecidos pelos SUS, há transfobia por parte de profissionais que nem sempre estão preparados para atender a população LBTQIA+. Além de existir diversas burocracias e limitação ou não oferta desses serviços em diversas cidades.


Esses procedimento sem acompanhamento médico podem colocar pessoas trans em risco. Entretanto, algumas pessoas trans não se sentem confortáveis ou não podem passar por aplicação de hormônios ou cirurgias, por alergias ou limitações médicas, isso faz essas pessoas serem menos trans?


No caso da maquiagem, muitas vezes, ela é usada como um desses artifícios para a passabilidade ou simplesmente para a afirmação da identidade, assim como os procedimentos médicos. Maquiar é poder. Fazer disso uma piada é desumanizar corpos.


Ninguém sai perguntando para uma pessoas cis, de forma gratuita, se ela fez plástica, mas pergunta para uma pessoa trans se ela é operada. Do contrário, se aplica o uso da maquiagem, não é porque um homem cis automaticamente está usando esses produtos que ele será uma travesti, é preciso muito mais... E uma dessas coisas é a consciência de gênero.


Dia 29 de Janeiro se comemora o dia da visibilidade transexual.





 

Lumena conversando com o participante Caio sobre o uso da maquiagem:


 

Foto de capa: reprodução Globoplay,

Vídeo: reprodução Globoplay


Fontes:

CATRACA LIVRE, "BBB21: Após homens maquiados, debate sobre identidade de gênero surge na casa." < https://catracalivre.com.br/entretenimento/bbb21-apos-homens-maquiados-debate-sobre-identidade-de-genero-surge-na-casa/>


PONTE, "Keron, 13, brutalmente assassinada no mês da visibilidade trans: a vítima mais jovem do transfeminicídio no país." <https://ponte.org/keron-13-brutalmente-assassinada-no-mes-da-visibilidade-trans-a-vitima-mais-jovem-do-transfeminicidio-no-pais/>



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