FILOSOFIA ESTOICA: vida virtuosa e equilibrada
- Ananda Almeida
- 16 de mar.
- 4 min de leitura

O estoicismo é uma filosofia helenística que surgiu no século III a.C., fundada por Zenão de Cítio. Essa corrente filosófica enfatiza a virtude, o autocontrole e a aceitação do destino como caminhos para uma vida plena. Entre seus principais representantes estão Sêneca, Epicteto e Marco Aurélio. Este último, imperador romano entre 161 e 180 d.C., registrou seus pensamentos na obra Meditações, um conjunto de reflexões pessoais sobre a vida, a moral e o dever. Nessa breve resenha, o objetivo é analisar os principais conceitos estoicos presentes em “Meditações” e como podemos usa-los para a construção de uma vida sábia e equilibrada.
A filosofia estoica presente em “Meditações” destaca a importância do autodomínio e da racionalidade para alcançar a tranquilidade da alma. Para Marco Aurélio, a verdadeira felicidade não depende de fatores externos, mas da forma como o indivíduo reage a eles. Ele defende a aceitação do destino (amor fati), a prática da virtude e o desapego das paixões e desejos que possam desestabilizar a mente.
Um dos conceitos centrais da obra é a dicotomia do controle, que ensina a distinguir entre aquilo que está sob nosso controle e aquilo que não está. Segundo Marco Aurélio, devemos focar apenas no que podemos mudar, como nossas atitudes e pensamentos, e aceitar positivamente o que fugir do nosso domínio. Esse ensinamento reforça a ideia estoica de que o sofrimento surge da tentativa de controlar o incontrolável.
Outro aspecto relevante é a transitoriedade da vida. Marco Aurélio frequentemente lembra a si mesmo da brevidade da existência e da inevitabilidade da morte.Para ele, compreender essa realidade é essencial para viver com sabedoria, sem se apegar excessivamente às preocupações supérfluas. Esse pensamento reforça a necessidade de agir com inteligência e de valorizar o presente, pois o futuro é completamente incerto.
Além disso, a ética estoica em Meditações destaca a importância de agir com justiça e bondade. Como imperador, Marco Aurélio via sua posição como uma responsabilidade moral e não como um privilégio. Ele acreditava que cada indivíduo deve cumprir seu papel com integridade, independentemente das circunstâncias externas. Esse compromisso com a virtude se manifesta na enfatização da empatia e da compreensão em relação ao próximo.
Ainda que este livro tenha sido escrito há muitos anos, podemos observar com clareza o quanto o estoicismo ainda é relevante nos dias atuais e pode ser usado no nosso cotidiano para deixar nossa vida mais objetiva e assertiva.
Quando paramos para refletir sobre nossos problemas, muitas vezes podemos perceber que a origem deles nem sempre provém de nós mesmos, mas ainda assim, não deixamos de sofrer com as deles. Um dos principais mandamentos do estoicismo é que não devemos permitir que aquilo que não está no nosso controle nos afete. Na prática, sabemos que essa é uma tarefa difícil, mas será que não vale a pena?!
Quando paramos de nos preocupar com aquilo que não controlamos e focamos naquilo que podemos controlar, nossos problemas não desaparecem automaticamente, mas é observável que nossa vida fica mais prática quando direcionamos nossa energia para as situações que nós podemos resolver. Afinal, se não podemos resolver uma situação, é justo que continuemos sofrendo por ela? Acredito que essa seja uma das reflexões mais importantes que essa obra nos leva a ter. Em vez de gastar energia tentando mudar o que está fora de nosso alcance, o estoicismo nos ensina a focar no nosso comportamento, atitudes e decisões. Ao aceitar as situações como elas são, podemos evitar o sofrimento desnecessário.
Partindo desse pressuposto, podemos também pensar no quanto a nossa vida é breve. Marco Aurélio constantemente nos lembra que a vida é curta e que todos nós estamos destinados à morte. Esse reconhecimento não deve ser motivo de tristeza, mas uma motivação para viver de maneira sábia e com mais propósito. Ao compreender que tudo é passageiro, podemos aprender a dar mais valor às coisas importantes e não se apegar excessivamente ao que é efêmero.
Outro aspecto importante e que não poderia deixar de ser mencionado é o alinhamento com a razão. Para os estoicos, viver de acordo com a razão é viver de forma alinhada com a natureza humana e os princípios universais. Isso significa agir com sabedoria, controlando os impulsos e buscando virtude e assertividade em todas as ações. Se fizermos escolhas baseadas em lógica e reflexão, em vez de reações emocionais imediatas, nossas vidas tendem a ser mais equilibradas e satisfatórias.
Quando conseguimos internalizar (ainda que de maneira gradativa) esses conceitos, automaticamente nós melhoramos nossa autodisciplina e nosso autocontrole. Quando praticamos hábitos que favoreçam a saúde, o bem-estar e o desenvolvimento pessoal, podemos alcançar uma vida mais equilibrada e realizada. Marco Aurélio acreditava que um bom estoico deve tentar ao máximo manter um rigoroso controle sobre seus desejos e ações, para assim chegar mais próximo da plenitude.
Depois de destrincharmos esses importantes mandamentos, podemos perceber com clareza que eles estão interligados e se complementam, nos levando a concluir que a filosofia estoica pode e deve ser uma grande aliada no nosso cotidiano.
Esses ensinamentos, quando incluídos ao dia a dia, podem nos ajudar a levar uma vida mais equilibrada, serena e plena, como Marco Aurélio propôs em seus escritos. O estoicismo não é sobre a ausência de problemas, mas sobre como enfrentá-los de maneira sábia e com paz interior.
FONTE:
MARCO AURÉLIO. Meditações. Tradução de Alex Marins. Editora Martin Claret, São Paulo, 2005
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