top of page

Feminismo é vitimismo?



Se você já ouviu falar ou leu em algum lugar a palavra “FEMINISMO”, inúmeras ideias sobre o tema passaram pela sua cabeça. A depender de quem você é e de como a sua visão de mundo se configura, você pode ter seguido por três caminhos distintos após conhecer o termo: o primeiro, e mais comum, ignorar o assunto, taxar todas as feministas como loucas e, simplesmente, deixar para lá sem tecer nenhuma opinião além de repulsa quanto ao movimento. O segundo, também muito comum, ignorar o assunto, taxar todas as feministas como loucas, deixar para lá pensando que o certo seria buscar igualdade de gênero, ou seja, escolher água e não H2O. E o terceiro, considerado por mim mais sensato frente qualquer novidade: buscar conhecer o assunto, pesquisar, debater e entender, enfim, do que se trata esse tal de feminismo.


Independente da sua postura, escrevo esse texto para você. E para todos os outros habitantes do planeta. Porque precisamos falar sobre feminismo, ou melhor, feminismos, visto que a luta não é homogênea já que não há um ser mulher universal. Mas esse assunto fica para uma próxima oportunidade. Aqui quero dividir com você alguns pensamentos sobre feminismo e vitimismo, palavras diametralmente opostas colocadas lado a lado inúmeras vezes.


Existem diversas teses, artigos, livros, posts, textos dos mais diversos gêneros explicando o que é a Teoria Feminista e o porquê de, obviamente, não ter nada a ver com vitimismo. Mas, para além dessa longa introdução, vamos ao que, finalmente, me fez escrever esse texto: o cansaço. Sim, o cansaço de precisar bater numa tecla tão desgastada e ver a sociedade caminhar em círculos quando não está retrocedendo. Ao lado do cansaço, está sempre ela, a esperança, voraz e sorridente, me dizendo para continuar.


Então continuo! Todas as vezes que me deparo com alguém afirmando que o feminismo é vitimismo, penso em estupro, feminicídio, pedofilia, maternidade compulsória, violência física, psicológica, patrimonial, racismo, LGBTQIA+ fobia, capacitismo e todos os eteceteras possíveis que atravessam a opressão de gênero, além de pensar nas abordagens geniais de outras mulheres debatendo o assunto. Entretanto, esses dias, ao pensar sobre o feminismo, cheguei a uma conclusão que revelou todo o resto: o feminismo é não vitimizar, é buscar a emancipação das mulheres e ser contra todas as violências dirigidas às minorias, e dentro dessa simples definição gostaria de ressaltar a minha aversão a respostas prontas, principalmente quando se trata de uma luta tão plural e complexa quanto a luta feminista.


Todavia, voltemos à ideia de vítima e busquemos enxergar a realidade. O que torna as mulheres vítimas todos os dias é a sociedade patriarcal absurda e conivente com tantas atrocidades, o que torna as mulheres vítimas todos os dias são os homens. E ponto. Os homens feminicidas, os homens violentos, os homens estupradores, os homens assediadores, os homens que transam com mulheres mas não leem mulheres, os homens que infantilizam as nossas falas ou atribuem os nossos argumentos a TPM, os homens que interrompem as nossas falas, os homens que interferem nos nossos corpos, os homens que não se informam, os homens que tiram a camisinha durante o sexo sem o consentimento da parceira, os homens que não estão nem aí para o consentimento da parceira, os homens que só se importam com o seu prazer, os homens que sexualizam crianças, os homens que não falam nada quando veem seus amigos fazendo qualquer uma dessas coisas. Reconhecer isso é um ato de bravura, não de vitimismo.


Nós, mulheres, muitas vezes reproduzimos o machismo, é fato. Mas nós não o criamos, não nos beneficiamos com ele, não o escolhemos. Precisamos tomar cuidado com as armadilhas dessa estrutura social alicerçada na opressão, para não atingir pessoas que também tenham sua trajetória marcada por estereótipos e discriminação, precisamos pensar a nossa luta enquanto mulheres feministas para além da opressão de gênero, estudando desigualdade de raça e classe, por exemplo. Mas, de qualquer modo, enxergue você a opressão que sofre ou não, ela está aí e baterá na sua porta a qualquer momento.


Porque, afinal, “lugar de mulher” é em qualquer lugar em que ela não possa escolher. E se você, além de mulher, fizer parte de alguma outra minoria, a situação piora bastante, sua vida fica muito mais difícil. Desde que conheci o Feminismo, entrei em contato com diversas leituras, mulheres e causas que me ensinaram muito, mas sei que tenho muito a aprender, e dentre tudo o que aprendi, sempre visualizei nitidamente as situações que nos vitimizavam, a importância de denuncia-las e porquê todas essas mazelas não são naturais.


Mas, apenas pensando esses dias sobre tudo o que é e não é o Feminismo e sobre tudo o que aprendo desde que me deparei com essa palavra, cheguei a uma resolução que me era antes desconhecida: o Feminismo é a busca pela não vitimização das mulheres, é renunciar os papeis pré-estabelecidos. E se você chegou até aqui e ainda acredita que o feminismo é uma forma de se vitimizar, sugiro que se aprofunde nas suas leituras e reflexões, porque afinal ninguém se desconstrói em algumas linhas. Respondendo à pergunta do início do texto, não, feminismo está para vitimismo assim como Salvador está para neve. Não há verdade, muito menos equivalência. Inclusive, reivindicar o controle da própria vida gera pânico para quem se beneficia do seu cativeiro, então nada mais urgente para quem vê uma mulher voar do quê tentar cortar as suas asas. Azar o deles, vamos incomodar.


O Feminismo, a meu ver, com a consciência de gênero que construí até aqui, é uma caixa de ferramentas potentes para erguer uma nova morada para quem sofre nessa que nunca serviu e agora pesa seus escombros sobre nós. É uma forma de dizer que não aceitamos ser vítimas, nem que outras sejam. Que escolhemos escolher, que lutamos para protagonizar a nossa vida. O Feminismo é olhar para esse mundo e pensar: Não aceito assim, não caibo aqui, quero mudar. É pegar as rédeas da sua vida e, na medida do possível, lutar, até que não haja mais nada possível além da liberdade.















2 commenti

Valutazione 0 stelle su 5.
Non ci sono ancora valutazioni

Aggiungi una valutazione
maduavilamatos
04 dic 2020

Obrigada, Priscilla!! :) É isso mesmo, coloquei de forma irônica, como uma crítica, por isso as aspas.

Mi piace

priscilla_sobral
01 dic 2020

Excelente texto. Mas fiquei sem entender bem a frase "lugar e mulher" é onde ela n possa escolher. Acho q no caso foi uma paráfrase com critica ne? Pq de fato, impor a existência de um "lugar" ja limita a escolha imagino. Gostei muito. Parabéns

Mi piace
SOTEROVISÃO
SOTEROVISÃO

CONHECIMENTO | ENTRETENIMENTO | REFLEXÃO

RECEBA AS NOVIDADES

Faça parte da nossa lista de emails e não perca nenhuma atualização.

             PARCEIROS

SoteroPreta. Portal de Notícias da Bahia sobre temas voltados para a negritude
bottom of page