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Foto do escritorEquipe Soteroprosa

Entre o Amor e a Anarquia, um pouco de flexibilidade

“Eu ficaria muito triste se você acabasse como eu ou como qualquer outra pessoa. Você só deve ser você mesma. Você tem tantas coisas boas que são únicas.” (Lars Väringer)


Seriado sueco que teve sua estreia há pouco mais de um mês na Netflix, Amor e Anarquia, conta com oito curtos episódios (cerca de trinta minutos cada) e é a segunda aposta do streaming na Suécia – a primeira foi Areia Movediça.


Essa comédia romântica nada convencional e viciante nos apresenta a história de Sofie, uma mulher na casa dos 40, consultora durona e ambiciosa, casada e mãe de dois, que vive em Estocolmo.


Contratada por uma editora local, com o objetivo de reestruturar e modernizar, Sofie mal sabia que sua vida milimetricamente organizada estava prestes a sair do eixo, a partir do início no emprego novo.


Você pensa de forma rígida sobre si ou sobre como sua vida deve ser? Seus passos são calculados, muitos planos a seguir? Você deixa seu jeito de ser de lado para se adequar aos padrões ou ao que pensa ser certo, ao que sua forma de pensar traçou para você? Ou será que há espaço para um pouco de anarquia em sua vida?


Se você pesquisar a palavra anarquia no Google um dos significados que irá aparecer é “falta de organização ou liderança em qualquer tipo de atividade, local ou instituição; confusão, bagunça”.


Acho que quando se pensa em anarquia realmente pode nos vir à cabeça a ideia de caos, desordem, baderna, confusão.


Mas o que Amor e Anarquia me trouxe de reflexão, a partir de tal palavra, foram outras duas palavras bem diferentes dessa ideia: flexibilidade e autenticidade. Ao longo do texto você descobrirá o porquê.


Voltando à nossa protagonista, logo no início do primeiro episódio (portanto não estou dando spoiler algum) percebemos que ela tem uma forma de escape da sua rotina organizada.


Sofie é viciada em se masturbar com a ajuda de vídeos pornográficos. O quê, logicamente, faz escondida de todos.


O problema é que em seu segundo dia na editora, quando acaba ficando sozinha após o expediente, não imaginava que o jovem técnico de TI, Max – com quem havia sido bem rude anteriormente – voltasse ao prédio e a pegasse nesse momento “à vontade”.


Max tira uma foto do comportamento inadequado (para o ambiente, deixando claro) de Sofie e a aborda no dia seguinte. A partir daí, os dois começam um jogo de desafios que vão propondo um ao outro, do qual não entrarei nos pormenores.


Diante disso, começam a acontecer situações imprevisíveis e divertidas - mesmo que às vezes seguidas de consequências não muito vantajosas para ela e para a editora. A brincadeira vai mostrando a personagem que sua vida estava extremamente controlada, rígida, sem espaço para tomar fôlego (por isso talvez apresentasse tal vício como fuga, alívio).


Viver na rigidez constante fez com que Sofie pagasse um preço caro de estresse e mudança total da sua essência. No último episódio você vai descobrir porque ela tomou esse caminho, mas adianto que teve relação com acontecimentos na vida de seu pai, o qual a criou sozinho.


Ter um padrão inflexível de pensamento, se autocobrar severamente e se precaver para que nada saia fora do planejado pode acontecer com muitas pessoas por aí. Elas se tornam escravas dessa forma de pensar: “Eu deveria”, “Eu tenho que” e seu comportamento reflete o mesmo. Agindo desse jeito, acreditam que estarão no controle da situação, ou seja, nada vai desandar, né?


Ledo engano, leitores!


Tudo pode “desandar”, tente você controlar ou não, pois não depende somente de você. O controle não está na sua mão sempre, para mudar de canal.


Mas não penso que necessariamente esse "desandar" seja negativo.


O fato é que não temos como saber, prever, e, em algum ponto, pode ser bom desandar. Pode ser que ao desandar, aquilo se transforme em algo que você não teve o alcance de imaginar, porque estava muito presa em seus rígidos pensamentos. Como uma massa de bolo que vira pudim, sabe?


Talvez, tentando se adequar ao que seus pensamentos dizem ser correto sempre, você foi deixando de ser você mesma, enterrando sua autenticidade, assim como Sofie fez.


Quantos sintomas podem surgir por se impor uma rigidez assim? Inúmeros! Físicos, inclusive. No caso da protagonista foi o vício em masturbação, mas posso citar as clássicas ansiedade, depressão e somatização.


Sofie nem sempre foi assim, ela tinha sonhos e era espontânea, porém foi preciso a chegada de um estranho para que ela se lembrasse disso.


A frase que inicia o meu texto é algo que Lars (pai da moça) diz a ela em um diálogo muito importante na trama, mas pode ser que esta se adeque também a você que está lendo essas linhas agora.


“Você só deve ser você mesma".


Cuidar da autenticidade é extremamente importante, porque quando você vai se deixando para trás, deixa também de satisfazer necessidades emocionais cruciais e únicas, as quais mais ninguém é capaz de satisfazer por completo.


Sim, e onde entra a anarquia, Sarah?


Entra no “desandar”, ora. Se permitir uma pitada de anarquia, desordem, deixar as coisas correrem seu rumo de vez em quando pode ser algo benéfico.


Claro que não podemos viver de nenhum dos dois extremos, temos boletos e responsabilidades.


O melhor seria fazer planos, mas não se encarcerar neles. Seria ter uma rotina e ser responsável sem deixar sua essência de lado por conta disso. Permita que seus planos, rotina e, acima de tudo, seus pensamentos sejam flexíveis, maleáveis! Eles que devem ser alterados, se preciso for, não você.


Ufa, quanta reflexão para uma série de aproximadamente apenas 240 minutos, hein?!


Só um adendo: se você se incomoda com um pouco de nudez explícita, talvez não seja o melhor programa.


E então, será que deixei alguém aí curioso para assistir? Espero que sim, porque ainda tem muita coisa interessante para pensar através Amor e Anarquia, além de poder curtir as paisagens lindas de Estocolmo, o enredo ambientado no meio literário (que adorei acompanhar) e uma trilha sonora bem autêntica.


Que tal se conceder essa leve anarquia hoje?

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