As eleições municipais de 2024 passaram, e que turbilhão! Vídeos, stories, enquetes e uma enxurrada de estratégias de marketing dominaram a cena. Não é exagero dizer que vivemos uma campanha na qual o Instagram consolidou seu papel como uma plataforma central na política. Aliás, a transformação do Instagram de um ambiente mais informal para um território de negócios e autopromoção não passou despercebida. Quem acompanha a evolução da plataforma percebeu o crescimento de perfis pessoais que, antes recheados de fotos de pets e momentos familiares, viraram perfis profissionais. Hoje, são verdadeiros cartões de visita, com bios formatadas, links para agendas de serviços e até vitrines de produtos.
A tendência é clara: enquanto o Instagram se profissionaliza, redes como o LinkedIn quase perdem o sentido, especialmente no Brasil, onde 91,2% da população utiliza o Instagram, segundo uma pesquisa recente do Opinion Box. E, ao contrário do antigo Twitter, agora X, que vive um período turbulento e chegou a ser bloqueado por resistir às leis brasileiras, o Instagram não tem essa barreira. Todo mundo está lá: da tia e da avó até os jovens eleitores. Em um ambiente assim tão democrático e popular, é óbvio que o espaço se tornou disputado por candidatos. E foi exatamente isso que vimos: uma das eleições mais sofisticadas em termos de investimento em marketing político.
Tivemos estrategistas de marketing, operadores de drone, videomakers e especialistas em tráfego pago moldando campanhas. A política, que antes se resolvia com carisma e corpo a corpo nas ruas, ganhou novos cenários e dinâmicas. A pressão para se adequar a essa nova realidade foi imensa. Com um simples vídeo bem editado, candidatos conseguiram transmitir imagens de seriedade e empatia, aproximando-se do eleitorado como nunca antes. A inovação e a adaptação a esse novo jogo digital deixaram claro que essas ferramentas de comunicação vieram para ficar — e elevaram o nível da competição.
Esse fenômeno me fez retomar um conceito que já explorei anteriormente: a sociologia da captura de atenção. Esse campo de estudo analisa como a aplicação de tecnologias — desde algoritmos e design de interfaces até estratégias de psicologia comportamental — é usada para prender a atenção e influenciar comportamentos. A superprodução de conteúdo nas campanhas de 2024 é um exemplo claro de como a política moderna depende de capturar o tempo e o olhar do eleitor de maneira cada vez mais personalizada e estratégica.
Outro ponto é que vivemos uma era de especialização. Para cada nova demanda, surge um curso, uma certificação, uma habilidade específica. A política não escapa desse processo. Há uma busca incessante por formas mais eficientes de operar equipamentos, planejar campanhas e captar a atenção do eleitorado. Embora especialização e tecnologia não garantam o sucesso de uma eleição, elas são peças essenciais desse novo quebra-cabeça.
O recado que as eleições de 2024 deixaram é claro: essa superprodução veio para ficar. E não vai mais se limitar apenas ao período eleitoral. Candidatos e equipes entenderam que a construção de imagem e a influência não podem ser interrompidas. A política agora é contínua, e a profissionalização das redes sociais não é mais um diferencial — é uma exigência. Quem não se adaptar, ficará para trás.
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