"Esqueça Outubro Rosa. Câncer de mama não existe. Sou a doutora Lana Almeida, médica integrativa, especialista em mastologia e ultrassonografia das mamas. Por isso, venho falar para vocês que câncer de mama não existe. Então, esqueçam Outubro Rosa. Esqueçam mamografia"
A fala acima é da doutora Lana Almeida, mastologista paraense, em um vídeo postado no Instagram. Em outro momento, o também médico Luiz Mattos teria afirmado, também em vídeo, que “a mamografia aumenta a incidência do câncer de mama”. Nos dois casos, o Instituto Nacional do Câncer e a Sociedade Brasileira de Mastologia se pronunciaram para garantir a enorme fake News envolvendo as duas afirmações divulgadas vias redes sociais. Parece que as mídias digitais colocam o cérebro de todo mundo pelo avesso!
Há algumas semanas também, um nutricionista postou um texto dizendo que a diabetes era causada por um verme instalado no pâncreas. Uma bióloga e uma farmacêutica o desmentiram, mas a juíza Larissa Boni condenou-as e solicitou que elas apagassem o vídeo desmentindo isso. Por quê? As duas teriam causado “vergonha e tristeza” ao nutricionista por expô-lo publicamente ao responder o post mentiroso. Ficou valendo a informação falsa passada por ele.
Nesses dois casos, verificamos cientistas divulgando inverdades tiradas não sei de onde (eu ia falar aqui, mas ficarei quieto pra não quebrar o decoro do artigo...). E que fatos como esses alimentam o negacionismo e terraplanismo que vem brotando como ervas daninhas internet afora. Um festival de invencionice. E tem gente que brada contra a regulamentação das redes. Quem não recorda que uma desembargadora contribuiu para viralizar o absurdo ao expor que a vereadora Marielle Franco era na verdade amante de um chefe de facção e que teria sido executada por não cumprir ordens da suposta organização criminosa ocupada por ela? A sanha ideológica falou mais alto que os atributos profissionais de uma atuante do campo do direito que devia prezar pela lisura dos fatos.
As mídias sociais são pródigas em criar influenciadores que tem o dom de ludibriar e engambelar as pessoas, ou estabelecer métodos de conduta que geram verdadeiros confrontos ideológicos, como a ideia de “Guerra Cultural”, idealizada por Olavo de Carvalho, o que fez muita gente perder a compostura e sair atacando a tudo e a todos. Durante a COVID, a ideia do “tratamento precoce” com cloroquina prevaleceu e alguns médicos surfaram nessa onda. E a coisa azedou mesmo quando o Conselho Federal de Medicina foi tomado por disputas ideológicas. Durante o pleito para escolha de novos representantes, estava sendo questionada a obrigatoriedade da vacina e a legislação sobre o aborto. Ou seja, o campo virtual extrapola para o real e pautas morais se colocam a frente de questões cientificas e até constitucionais.
Nos casos citados nos primeiros parágrafos, especialistas chamam atenção de que enunciados desse tipo não tem qualquer apresentação de dados científicos confirmando o que foi alegado e que logo após o profissional que proferiu a informação incorreta apresenta um produto ou terapia milagrosa e cursos para administrá-los. Ou seja, uma sucessão de picaretagem em alto nível. Daí, adquirem seguidores, e até sofrerem punições de suas entidades reguladoras, já faturaram em cima. E gente pra cair nesse golpe não falta. Seja por inocência, seja por maledicência mesmo.
Tudo isso favorece negacionistas – vide a juíza que emitiu parecer desfavorável a explicação de duas especialistas no combate a diabetes, dando subsídio ao nutricionista citado e aos demais profissionais mal-intencionados elencarem outros absurdos desviantes da prática cientifica, que deve se basear em vasta literatura, e não no exercício de contrariar baseando-se em indícios não se sabe vindos de onde. E tudo isso alimentado pela abertura dada por big techs que deixam passar esse oceano de bizarrices goela abaixo.
O câncer de mama é o mais frequente na população feminina, ocupando o primeiro lugar. São 42 casos por 100 mil mulheres em nosso país. A mamografia é um exame preventivo, usado justamente para checar se está tudo normal ou não nas glândulas mamárias. O diabetes é causado por elevação das taxas de glicose no sangue e ocorre devido a insuficiência na produção de insulina, liberado pelo pâncreas, e não porque esse órgão virou hospedeiro de uma lombriga!! Esses dados são da Sociedade Brasileira de Endocrinologia.
E assim caminha a humanidade virtual, repleta de oportunistas, aplaudida por negacionista, ovacionada por terraplanistas, e excluindo virtuais práticas de bons cientistas.
FONTE:
IMAGEM: Site Brasil de Fato
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