Meu peito é casa de poucos amores, infinitos sonhos, muitos temores e várias preocupações. Me importo com quem amo e obviamente isso, quando se trata de amor incondicional, não quer dizer nada, posto que recibo é prerrogativa da razão. Mas se amar é respeitar e o respeito tem muito de justiça, sejamos justos: como é insuportável amar um bolsonarista!
Entendendo as divergências e atendendo ao apelo do amor, vamos abordar essa narrativa de uma maneira que mantenha o respeito mútuo, apesar das críticas e do uso de recursos estilísticos solicitados.
Na selva digital moderna, onde as opiniões e fatos batalham pela supremacia como feras selvagens, Titus (que um dia comandou os sabinos contra o império romano) se posiciona como um curioso exemplar da fauna política.
Declaradamente à direita e fervoroso apoiador do bolsonarismo, ele carrega a tocha da "liberdade de expressão" como se fosse um estandarte sagrado, iluminando o caminho com as chamas da discordância e, muitas vezes, da desinformação.
Não é raro percebê-lo replicando questionamentos rasos e dúvidas mirabolantes que facilmente encontramos pelos turbulentos mares da internet passeando sobre os barcos da intransigência, içando velas tecidas com threads de fake news, convencido de que está numa nobre cruzada contra a tempestuosa e onipresente "política de esquerda". Sua embarcação, porém, carece de uma bússola que aponte para a verdade, guiando-se mais pelas estrelas da controvérsia do que pelos faróis da evidência.
A Constituição Brasileira e as leis, esses faróis de civilidade e ordem, são como línguas estrangeiras para ele; conhecidas, mas não compreendidas, vistas (ou nem isso), mas não interpretadas.
Se aferrando tão rigidamente a suas crenças, ele se esquece de que a verdadeira força reside na capacidade de questionar, de duvidar e, finalmente, de entender. Talvez, um dia, ele perceba que o inimigo que ele tanto combate não é a política de esquerda, mas a própria relutância em aceitar a complexidade do mundo.
Sua devoção à liberdade de expressão é tão fervorosa quanto paradoxal. Acredita piamente que sua voz deve ecoar livre e forte, mas, ironicamente, não se dá conta de que a verdadeira liberdade de expressão floresce não no monólogo, mas no diálogo; não na disseminação da desinformação, mas na busca diligente pela verdade.
Ele se vê como um paladino defendendo o último bastião da liberdade contra hordas opressoras de pensamento único. Mas, ao recusar-se a abrir os portões do castelo para a diplomacia do conhecimento, ele se torna o monarca de um reino isolado, onde os súditos são ideias obsoletas e as leis, decretos de conveniência.
Nesta jornada, meu querido Titus corre o risco de tornar-se um viajante perdido na estrada da informação, cujo mapa está desatualizado pelas tempestades da propaganda e dos algoritmos de redes sociais. A cada passo que dá, afasta-se mais da terra prometida da compreensão mútua e do respeito pelas diferenças.
Espera-se, no entanto, que haja um despertar, um encontro com a bússola perdida da razão e um retorno ao porto seguro do diálogo construtivo. Até lá, ele permanece um navegador audaz, cuja odisseia reflete a turbulência de nossos tempos, um lembrete vivo de que a verdadeira liberdade de expressão é um diálogo, não um monólogo.
O fracassado moralmente
tem unhas de vassoura
e uma pá nos dentes.
Vocifera suas frustradas certezas
em meio ao tsunami da realidade,
que quebra nos corais
da sua pobre e frágil insistência.
(ARGOLO, Ramon , 2022, A vida se borda em versos, p. 59)
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Imagem: IA
Ótima reflexão,Ramón! O grande problema é que são muito persuasivos e assim garantem apoio de um rebanho enorme de tapados,que compreendem diálogos como guerras para conservar a "razão" sobre o que pensa.