Imagine que você vai num show de uma cantora que nunca ouviu falar – caiu lá de paraquedas. A certa altura do espetáculo, uma mulher sobe nua no palco e faz uma dança sensual. De repente, vai até a cantora, que está sentada assistindo toda a performance, deita a mesma, puxa a saia dela e cai de boca na... vulva, passando a chupá-la. As reações na plateia são variadas. E a sua? Algo do tipo não rola nem em boate de streap (hum...talvez)! Por que tanta apelação? Quem é essa cantora? Isso ocorreu ou foi piada?
Esse fato aconteceu durante show da funkeira MC Pipokinha, ou Doroth Helena de Souza Alves, uma catarinense de 24 anos, a dona da maior polêmica de todos os tempos da última semana. Muitos estarrecidos após assistirem o vídeo da cena. Não ficou por aí. Começaram a “pipokar” outros escândalos envolvendo-a. Afirmou que assédio é a coisa mais normal do mundo; desdenhou de salários de professores, comparando-o com seu gordo cachê; e apareceu recentemente numa foto onde um gatinho “mamava” seus seios. Onde essa mulher vai parar com tanta controvérsia?
Já tem tempo que os artistas de funk ficam famosos pelas celeumas que protagonizam, enquanto quase ninguém ouviu um dó sequer de suas músicas – já falei isso em outros artigos. E parece que é a norma: os rebuliços no qual se metem fazem parte da carreira e, ao que parece, estão imbricados na nova fase desse ritmo musical. Portanto, não fico nada alvoroçado, nem espantado, caso realizem a coisa mais escabrosa possível em termos de obscenidades. Mas qual o limite disso tudo? Pode-se fazer o que quiser e tudo bem?
Pipokinha se intitula, ou foi intitulada, “a rainha da putaria”. Alguém com esse codinome vai se comportar quando? Olha os títulos das músicas dessa majestosa aí: “Quero ser enterrada de 4” (lá ela...); “tenho piercing na xereca”; “rala sua mandada, safadona”; “cai em cima do cogumelo”.
Quando eu morrer Eu quero ser enterrada de quatro Porque assim A terra vai me comer do jeitinho que eu gosto
Aê Porra Pode convocar o camisa 10, caralho É o DJ ADMETA, porra (senta, senta, senta, senta, senta, senta) (Senta, senta, senta, senta, senta, senta)
Oi, eu sou a MC Pipokinha Eu sou safada e eu tenho um piercing na xereca
Rala, sua mandada, safadona do caralho
Aí, Pablo RB Vem com o bigodinho de Hitler, que minha pepeca é terrorista Pipokinha, princesa da putaria
Bota, bota o bigode na minha xota Bota, bota, bota o bigode na minha xota De 4 que entra tudo, dá um tesão do caralho De 4, de 4
Quem gostou das letras acima dá um gritão!
Me respondam aí: você ainda está surpreso que no show dela role sexo oral? Está surpreso, gracinha? No funk, desempenho é tudo!
Se existe um público que adere a cultura do funk que chega a esse esculacho, é porque limites já foram quebrados há tempos. Aí, nem Ministério Público...
As outras polêmicas já citadas mostram isso. Se TUDO virou funk – declarações, atitudes, práticas, sexo explícito – o universo dessa turma está completamente contaminado pelos ares do ritmo, que a essa altura, tornou-se um polemicfunk. Já é. Enquanto isso, Pipokinha se diverte, gerando renda com publicidades e gozando na língua de outrem até cair no ostracismo e ser mais uma esquecida no buraco negro da internet. Ou até aparecer outra que pratique uma orgia com toda a plateia...
Não sei se educação resolve, pois um fã de Pipokinha pode estar fazendo doutorado em astrofísica. Não é o caso. Acredito que enquanto discutimos balburdias funkiais, tem empresa terceirizada “séria, certinha, e ética” exercendo trabalho escravo, como ocorreu em vinivulas do Rio Grande do Sul, com mais de 200 trabalhadores resgatados. Enquanto queremos fazer com que a Pipokinha se exploda, vereador gaúcho que reclamou dos “mal-agradecidos” baianos que estavam na lamúria escravocrata se faz no voto da população “cidadã de bem, pagadora de impostos”. Agora sabemos que é urgente colocar limites em algo que deveria estar desaparecido há 135 anos! Dito isso, já sabemos o que queremos estourar. E não é pipoka...
FONTE:
Texto muito sagaz e bem feito. Gostei do que você apontou sobre a questão da visibilidade, porque afinal de contas é isso mesmo. Assim como outras ascenderam e decaíram, ela também decairá e daqui a pouco ninguém mais lembrará dela. Mesma coisa com os cantores de pagode baixaria daqui do nosso estado. E uma outra coisa interessante que eu penso: por que que o funk mais antigo, do Claudinho e Buchecha, do MC Leozinho, MC Sapão, por hora, continuam sendo lembrados e até mesmo tomados como 'tipo ideal' do funk? No fim das contas, não precisa ter mais aquela preocupação com o público e com a arte do ritmo em si. E Pipokinha (e seus correligionários) não tem nenhum interesse…
Olha, acho que existe um equívoco das pessoas sobre liberdade sexual e empoderamento feminino. A MC quer jogar na cara da sociedade da forma mais explícita possível o que acontece em 4 paredes, mas isso não a torna uma "voz para as mulheres". Vejo mais como uma caricatura escrachada para assustar tanto ao ponto das pessoas nem terem tempo de condená-la. É tipo ama ou odeia. E essa geração tem amado pessoas sem noção...
Penso que ela contribui mais para a objetificação da mulher, e não para empoderamento feminino. Isso não me parece uma luta feminista que se leve a sério. Inclusive a MC cria uma infantilização nos seus gestos, podendo até gerar uma incitação sexual a corpos de crianças. E há várias mulheres no campo progressista que têm feito essa crítica.
Se fosse homem , seria igual a discussão? Provavelmente não com tanta força, mas isso não invalida a discussão sobre o tema.
Agora uma outra coisa é o ambiente privado, desde que haja consenso geral daquele público, pode rolar certas questões até sexuais. Isso ocorre em vários lugares. O caso grave é também associar funk a pornografia e isso gera uma desqualificaçã…