Imagine que ocorre um terremoto num lugarejo distante, com mortos e dezenas de desaparecidos. Meses e meses se passam e as famílias que tinham alguma esperança de reaver seus entes queridos vão ficando resignadas e se adaptam às perdas, celebrando ritos funerários para firmar a despedida. Eis que depois de todo esse tempo os desaparecidos retornam como se nada tivesse acontecido, sem recordações de onde estavam durante o período em que estavam sumidos, voltando à rotina normal, deixando todos os enlutados de cabelo em pé. Estranho, não?
Pois esse é o mote da série “Katla”, em exibição na Plataforma Netflix, com temporada única (ao que parece). Tudo se passa na Islândia – país nórdico conhecido pela cultura viking e pela cantora Bjork – onde a série foi produzida. Na história, o vulcão Katla está há um ano em continua erupção, provocando uma poluição atmosférica que causa estragos naturais e respiratórios nos moradores de uma pequena vila, fazendo com que muitos deixem o lugarejo, que vai se tornando um local inóspito e cada vez mais isolado. Um grupo de geólogos é convidado para estudar esse fenômeno. Logo notam que há movimentações estranhas no interior da estrutura geológica. Daí então, alguns moradores dados como mortos retornam para o convívio comunitário, totalmente cobertos por uma camada de fuligem vulcânica, chocando a todos, aparentemente saudáveis e sem sequelas. Não só isso. Outros reaparecimentos se tornam bem misteriosos. O que a erupção teria a ver com tanto milagre?
Com o desenrolar da trama vão aparecendo questionamentos a respeito desse evento e emergem antigas lendas do folclore europeu. As hipóteses fazem relembrar do passado distante e da cultura escandinava. E todo o enigma envolta do vulcão evoca mitos daquele povo, como os changelings.
Segundo a crença popular, essas criaturas seriam “crianças trocadas”, deixadas no meio humano para convívio social em troca de um garoto qualquer. O pequeno humano era levado por fadas, conhecidas como “trolls”. Esse termo é popular hoje em dia. Significa “trote”, ou seja, fazer com que alguém leve a sério uma brincadeira. Tanto que já existe o verbo “trolar”, tão popular para quem utiliza as redes sociais. Esses changelings trazem lembranças comuns do desaparecido, porém, também levantam suspeitas, desconfiança, e medo, pois se trata de algo que pode representar algum perigo, já que a procedência é desconhecida. Outra série que apresenta episódios com essa temática é “Supernatural”.
A série também nos faz refletir sobre as perdas e seus significados, principalmente se seria saudável retomar um relacionamento com alguém com o qual você emocionalmente se desprendeu de tornar a vê-lo com frequencia, seja em um casamento desfeito, uma sociedade findada, ou amigo de infância que foi residir em um país distante, perdendo assim o contato. Mas não é apenas disso que a série trata. E se o reencontro for com você mesmo?
“Katla” pode ser interessante para os fãs da série alemã “Dark” já que contém elementos semelhantes como desaparecimentos indecifráveis, distorções no tempo cronológico, e as conexões da população com estruturas que escondem segredos e mistérios (no caso de “Dark”, uma usina nuclear). Para quem é um grande espectador de suspenses que envolvem alterações na linha do tempo, este é um programa recomendável.
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