Quando você lê um título de filme, faz prognósticos sobre seu conteúdo. Comigo, pelo menos, é assim. Felizmente, na maioria das vezes isso é desmontado durante a audiência, afinal, não há como mensurar algo pela nomenclatura. Tenho uma perspectiva intuitiva nesse sentido, daí tento prevê o que virá. Exercício ineficaz.
Foi assim quando passei algumas vezes o olho e lia “Sociedade Literária e a Torta da Casca de Batata”. Sem se ater à “capa”, podemos achar que é uma comédia pastelão, um besteirol americano, um filme nacional de Porchat... Estereotipando bem aqui, pra tentar ficar jocoso, algo meio American Pie: uma turma de colegiais nerds que apreciam leituras da Playboy, levando tortadas de legumes na cara, dado por loiras com bustos fartos, em algum colégio da Califórnia, após errarem perguntas esdrúxulas. Por aí.
Mas não. Ao se atentar um pouco mais, vê-se um filme de época. Provavelmente, um clube do livro, formado por pessoas maduras, mal-amadas, alcoólatras, com muita discussão “cabeça”, gente com preferências autorais, Hemingway é o melhor, não, é George Orwell... Não estando com clima pra isso, fica pra outra hora.
No entanto, o longa que recomendo agora não contém as passagens acima. Como mencionei, os títulos parecem pregar algo que não ocorrerá. Grata foi minha surpresa ao pensar que “Ninfomaníaca” de Lars Von Trier tinha muita putaria, e ao assistir me dar conta de que é um filme com muita filosofia!
Bem, chega de tanto introito! “Sociedade Literária e a Torta da Casca de Batata” é sobre os efeitos da opressão. Mais precisamente, os dramas subsequentes de uma invasão territorial e as medidas que cada um toma pra reagir a ela. Cai como uma luva nesses períodos difíceis, ao nos depararmos com um país europeu destroçado por bombardeios, debandada de ucranianos, e avanço de soldados russos. Ao mesmo tempo, nosso país sempre a beira de um quase-golpismo semanal, integrantes das Forças Armadas se metendo onde não deve, e instituições respondendo por cartas que lugar de marchar soldado é no quartel.
Nas primeiras cenas, vemos a tal sociedade se formando de maneira inusitada, numa ilha inglesa ocupada por nazistas, nos anos mais duros da Segunda Grande Guerra. Uma escritora bem-sucedida toma conhecimento da existência de tal associação e parte para lá. Bem, imagino que o que ela encontra lá é exatamente o que alguém que tenta prevê o conteúdo pelo título espera...
Essa película, ao que parece, está escondida nas prateleiras da Plataforma Netflix, assim como muitos outros. Digo que é um filme bom. Não é de tirar o fôlego, não é digno de indicações em premiações nos circuitos de cinema mais badalados, nem atuações espetaculares. Mas traz um enredo satisfatório, e como disse, serve pra definitivamente sabermos que a trajetória histórica da humanidade é cíclica, o passado está lá, porém, retorna com outros uniformes.
E a torta da casca de batata? Onde entra? Ah, não vou ficar aqui dando pala. Se puderem, assistam. É simplesinho, simplesinho, mas bonitinho.
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