O que antes era usado como arma contra o sistema, hoje é démodé coberto de hype e lacração. Não tem nada de elegante e é extremamente cafona. O motivo está nos acessórios em que a militância tem usado, ou seja, no apoio aos detalhes das lutas sociais ao invés do engajamento nas problemáticas que afetam diretamente a nossa sociedade.
Um exemplo disso está na relação militância e internet, quando os ditos defensores de algumas causas sociais implicam com questões que não se efetivam na prática. Esse é uma dos assuntos que tem espantado o público do BBB, a militância vazia de alguns participantes como Karol Conka, que humilhou um homem negro, sendo ela negra também. Onde estava a militância quando esculachou Lucas Panteado, o impedindo que dividisse a mesa com ela?
Sem contar a xenofobia contra a participante Juliette, que é da Paraíba, dizendo que o povo de lá (do Nordeste) é sem educação. Portanto, Karol Conka, mostrou que a militância em que apoiou suas músicas, era pura peneira de frases feitas. É possível citar também Nego Di, outro participante do reality show, esse chamou a militância de Panteado de defesa de vagabundo, recordo aqui que o ator participou da ocupação das escolas em São Paulo.
Em inimaginável outro lugar, a militância reapareceu na Igreja Católica, através da figura do Padre Julio Lancellotti, que desde 2020 tem ganhado cada dia mais visibilidade. No ano pandêmico, o padre promoveu diversas distribuições de alimentos para pessoas em situação de rua, momento em que aumentou a quantidade de indivíduos nessa condição precária devido à crise econômica e sanitária.
No início de 2021, Padre Julio Lancellotti arrancou pedras pontiagudas de baixo de viadutos de São Paulo, as quais impediriam que os mendigos dormissem nessas localidades, a medida foi implementada pela prefeitura de Bruno Covas. Devido a repercussão do caso, principalmente através da figura do padre, a prefeitura retirou as pedras.
Não é de hoje que a figura da Igreja Católica tem algum impacto efetivo no social. Outro momento histórico em que a Igreja ajudou muito foi na época da ditadura militar, muitos padres se colocaram em risco para acolher os “subversivos” da ditadura. Não pretendo ignorar aqui os casos de pedofilia e a Inquisição promovida pela instituição, mas desejo mostrar um ponto dessa costura que é militante.
Para fazer uma conexão dos dois casos: o que está em alta, as pautas identitárias por exemplo, pode cair em desuso se não for reinventada. Enquanto figuras ditas antigas ou velhas, podem voltar para o topo das paradas resgatando a velha militância como ponto de combate.
Não há problema algum nisso. A melhor solução, no entanto, não seria a mistura dos tecidos do novo e do velho para criar um tipo de roupagem militante preparada para qualquer ocasião? Uma moda que nunca saísse de moda, seria possível?
A questão em destaque é: quais elementos seriam necessários para uma dosagem de cores e estampas? Enquanto as questões individuais estiverem atropelando a organização social, esses dois fatores parecerão desconexos e os próprios ditos militantes soarão como exagerados, arrogantes e opressivos, esse é o caso de alguns indivíduos no reality show da Globo e de diversas figuras públicas e anônimas em redes sociais.
Uma dose a menos de lacração e um pouco mais de empatia e generosidade fortaleceriam as pautas sociais, as quais desembocariam em uma mudança nas questões identitárias na maioria dos âmbitos, senão em todos, desde gênero a raça, sexualidade e outras problemáticas que compõem o indivíduo. Se um padre está se sobrepondo a lacração é porque é preciso que a turma da moda se junte a ele, ou no mínimo repense quais são os pontos mais importantes para a tecitura social.
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Foto de capa: reprodução Instagram Padre Julio Lancellotti + edição autoral Jacqueline Gama.
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