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Foto do escritorCarlos Henrique Cardoso

A FEIRA DE SÃO JOAQUIM! UMA FEIRA DE MANGAIO.




Você pode até não gostar de feira, mas que ali os preços são mais em conta e você encontra de tudo, ah, disso não se tem dúvida! E é assim também em Salvador, repleta de feirinhas em bairros populares e nobres também! A popularíssima Feira de São Joaquim atesta o gosto do nosso povo por esses comércios de rua. Já o poder publico não é muito fã da pechinchada...


A antiga Feira do Sete, localizada nas proximidades da zona portuária há um século atrás, sofria praguejos pelo fato de suas barraquinhas atrapalharem a expansão das obras de ampliação do porto. Polícia batia lá direto, provocando uma onda de baculejos. Jornais falavam da favelização do local, até que um incêndio em 1934 findou suas atividades e houve sobretudo comemoração pelo sinistro! Estava para ser transferida em razão da construção da Avenida Jequitaia. Podemos inclusive inferir que a tragédia foi premeditada...


Surgiu então a Feira de Água de Meninos, retratada no filme “A Grande Feira”, de Roberto Pires, em 1961. Era completamente desordenada, tumultuada, sem higiene, totalmente esquecida pelas autoridades. A prefeitura só apareceu pra querer transferir de lugar e proibir novas barracas. A verdade é que embaixo do local passava tubulações de combustível e em 1964 houve uma explosão e mais uma feira ardeu em chamas. Até da Ilha de Itaparica dava pra ver o tamanho das labaredas. Mais uma feira, mais um incêndio!


E foi então que se originou, bem próximo dali, a atual Feira de São Joaquim. Percebam que do Sete até São Joaquim, os comerciantes foram sendo “empurrados” pra mais distante das Docas e da área turística do Mercado Modelo e do Elevador Lacerda. Essa vingou, e queira Deus, sem mais incêndios.


Tem tempo que não apareço por lá. Quando criança, ia demais com meu pai, sempre aos sábados. Me recordo da gritaria, das palmas, do tumulto, engarrafamento de pessoas, e muita lama. E é assim até hoje. Muitos vão com amigos, vizinhos, parentes, numa comitiva, aproveitar produtos no precinho, geralmente de manhã logo cedo. É uma espécie de central de frutas, verduras, tubérculos, que de lá partem pra armazéns, quitandas, mercados, e demais feiras, uma “sãojoaquinização” da cidade. Fumo de rolo, arreio de cangalha, bolo de milho, broa, e cocada, pé de moleque, alecrim, canela, estão lá pra vender. Quem quer comprar?


Algum tempo depois, ia lá pegar uma feijoada e tomar uma bicada de lambu assado numa biboca, também no sábado, pra não deixar morrer as raízes e – não sou besta – olhar pra Maria do Joá. A última vez que fui, aproveitei a parte dos fundos, que tornou-se uma galeria de bares e restaurantes, já com a vista para o terminal do ferry boat e a Baía de Todos os Santos. Lá sai todos os tipos de pratos, “comida de estivador” e uma cerveja em conta. Domingo rola um samba de roda(pelo menos até onde eu sei, continua) nesse mesmo espaço, ao meio-dia, fazendo floreio pra gente dançar. A feira ainda abriga festas de marujo e outras manifestações religiosas, o que demonstra seu potencial para além da atividade comercial, mas também um point, um encontro de fé, um ambiente artístico, cultural, e paisagístico, onde nativos, feirantes, e visitantes perambulam por suas vielas, descobrindo cheiros, sabores, cabresto de cavalo e rabichola, farinha, rapadura, graviola, e diversão (infelizmente, ratos e baratas também curtem).


No Entanto, como vimos com as “ancestrais” de São Joaquim, as autoridades pecam muito ao não valorizar a qualificação do espaço. O projeto de revitalização saiu do papel em 2011, mas só uma etapa foi entregue. As demais seguem em ritmo de bicho-preguiça. Isso gera improvisação e aumenta a sensação de abandono. Após tantas décadas de descaso, as feiras abrigadas naquela região podem acomodar, além dos produtos e tanto item cultural, artístico, e religioso, a resignação por estar num lugar tão maltratado.


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