Kamala Harris não vai acabar com os problemas estruturais - sociais, raciais e econômicos - dos EUA e do mundo. Kamala não vai promover profundas transformações na política interna e externa americana. Kamala não vai governar só para afrodescendentes e imigrantes. Kamala não vai implantar um governo socialista. Não vai destruir o imperialismo americano. Longe disso. Kamala representa o establishment da política e da cultura americana. Ela é uma democrata e liberal. Quem são alguns de seus apoiadores? O cofundador da Netflix, Reed Hastings; Reid Hoffman, cofundador do LinkedIn; o fundador da Khosla Ventures, Vinod Khosla e alguns executivos importantes do vale do sicilio.[1] Ou seja, a elite capitalista estadudinense.
Vale a pena resumir sua trajetória. Filha de indiana e jamaicano, ela é graduada em Ciência Política e Economia, pela Universidade de Howard University, em Washington. Doutorou-se em Direito na Universidade da Califórnia, e foi a primeira mulher eleita Procuradora-Geral do estado da Califórnia. Em 2016, tornou-se a primeira senadora asiática e a segunda mulher negra a ocupar um cargo no Parlamento. Em 2020, tornou-se a primeira mulher negra a ser vice presidente dos Estados Unidos.[2]
A democrata é do time de conservar, e não fragilizar a república. Apesar de ter lutado a favor da comunidade LGBT, e de falas importantes contra o racismo em solo norte americano, ela não é alguém que trabalha para desestabilizar o sistema. A comunidade negra não sofre de amores por ela, especificamente com o tema do encarceramento em massa.[3] Recentemente, também, recebeu muitas críticas, como vice-presidente, na contenção de fluxo migratório na região fronteiriça do México.
A candidata do Democrata representa a defesa do pluralismo cultural e político, e de uma política não isolacionista. Mesmo que tenha anseios antibelicionistas, ela não tem poder para mudar a configuração da política americana.
Há uma história torpe do Partido Democrata, que é defendido por grande parte do establishment mundial, com envolvimento de guerras e conflitos em vários territórios, supostamente em nome dos valores da democracia liberal, mas, na verdade, representando os interesses políticos e econômicos do estado e do mercado. Contudo, isso não invalida o fato de que Trump representa muito mais retrocessos para a civilidade. Seu linguajar chulo e suas mentiras rotineiras atentam contra todo o decoro. Trump, também, propaga o declínio de avanços de direitos civis, políticos e sociais nos últimos séculos. O que inclui muitas pautas progressistas. Sua índole é disruptiva e extrema. O estado laico e a divisão de poderes são um problema para ele. Sem dúvida, seu desejo é ver um país em ebulição, em chamas, como foi a invasão do Capitólio, em 2021. Tem ímpeto autoritário e reacionário. Usa a religião para propagar o retorno de uma universalidade cristã. Vejam a história da Bíblia patriota, chamada “Deus abençoe a América”.[4]
Por fim, cito abaixo a fala de Rui Costa Pimenta, presidente do Partido da Causa Operária (PCO):
“Kamala Harris não é um mal menor diante de Trump [...] “a teoria do mal menor não é uma teoria marxista” e que “o grande problema não é o inimigo declarado, é o falso amigo, o falso amigo é muito mais perigoso”[5].
Diferente do que pensa o presidente do PCO, a derrota de Kamala Harris, por ora, é um mal maior diante de Trump.
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Notas:
[3]https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2024/07/22/ronilso-pacheco-historico-de-kamala-com-populacao-negra-e-controverso.htm
[5] https://www.brasil247.com/entrevistas/kamala-harris-nao-e-um-mal-menor-diante-de-trump-diz-rui-costa-pimenta
Link da imagem: https://www.dn.pt/6459614789/kamala-harris-emerge-como-figura-critica-apos-desastre-de-biden-no-debate/
Senti falta de um de uma crítica mais aprofundada à fala do presidente do PCO no seu texto. Se Kamala Harris é o establishment, e Trump uma espécie de desestabilizador do establishment, a eleição dele (nessa lógica), não seria bom pra acelerar a ruína do império?