Cada vez mais, parece que o capitalismo e a democracia não produzem, ou talvez nunca tenham realmente produzido, uma relação honesta e justa na sociedade. E isso tem efeito na vida prática. O crescimento da extrema direita na Europa, com aumento de acentos no Parlamento, deixa mais claro que o sonho liberal, de liberdade, diversidade e inclusão inexiste sem uma cultura política atuante. A turma de Marine Le Pen, Giorgia Meloni e o partido Irmãos da Itália, a Alternativa para a alemanaha (AFD) dentre outros, se aproveitam de individuos frustrados por um sistema excudente e altamente competitivo, isolados em suas casas, apoiando discursos negacionistas nas redes virtuais, abre espaço para apoiar retóricas autoritárias. Apoiam agendas anti-imigração, são contrários a políticas de preservação ambiental e de blocos políticos e econômicos, como a própria União Europeia.
Como sabemos, o capitalismo, o atual sistema econômico de trocas constantes, de relações de compra e venda da força de trabalho, hoje a nível global, precisa romper fronteiras, explorar novos espaços. É fundamental para esse sistema buscar novas matérias primas, mercados e novos consumidores. Todavia, ao mesmo tempo, ele acaba por reduzir, ou piorar, as condições de vida dos cidadãos. Seja porque o Estado é capturado pelos interesses econômicos, das grandes corporações mundiais, seja porque sobra pouco para o orçamento público cobrir as crônicas defasagens sociais de seus países. Demandas materiais como desemprego, tributação, péssimas condições de assistência social são calcanhares de Aquiles dos Estados-Nação.
Esse cenário contribui para a crítica do regime democrático, e, também, dos valores liberais. Ao mesmo tempo, uma crítica a globalização e ao capitalismo desse tipo. Como resolver isso? Os liberais podem tentar usar as velhas táticas, como o uso de ideologia, que oculta as desigualdades históricas, para mitigar a situação. As instituições verticais, como mídia, escolas e igrejas poderiam continuar a fazer esse papel e evitar que a tampa da panela não exploda. Seriam fórmulas antigas de convencimento, do casamento entre democracia e capitalismo.
Contudo, com o aumento das mídias alternativas, no mundo digital, cada vez mais críticas ao sistema, fica muito difícil manter uma ideologia hegemônica que aponte para o feliz casamento. As instituições clássicas, os aparelhos ideológicos, parafraseando Louis Althusser, estão sendo questionadas diariamente, por indivíduos e grupos que se apropriam do espaço anárquico da internet. As pessoas têm acesso aos diversos meios de informação antiestablishment. As instituições continuam sendo desqualificadas. Como controlar esse acesso? Como contornar os algoritmos? Como combater as ideias fascistas e autoritárias que circulam, livremente, em diversos grupos?
Ou o capitalismo vai colapsar junto com a ideologia liberal, ou ela vai se transformar junto com novos regimes políticos, a exemplo do que acorrera no totalitarismo e semi-ditaduras fascistas.
É dever dos estados democráticos tomarem as rédeas da História, e com medidas mais enérgicas, duras, sem, contudo, transformarem-se em ditaduras. Eis o desafio.
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Situação bem complicada essa. Esse extremismo vai ferrar todo mundo de uma vez por todas. Nunca teremos tanta concentração de renda com essa gente chegando ao poder.