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Foto do escritorAlan Rangel

O DILEMA DAS REDES E MINHA EXPERIÊNCIA

Depois de um tempo parado, leitores, eis que ressurgi das cinzas. Falarei um pouco do conteúdo discutido no documentário O Dilema das Redes, atualmente na Netflix. Há inúmeras maneiras de abordar o tema. Eu focarei mais no lado pessoal, um pouco da minha experiência com as ferramentas da internet.


De maneira genérica, a internet, e, sobretudo, o uso que se faz dela, amplificou, assustadoramente, o lado obscuro e, ao mesmo tempo, mais frágil dos sapiens.


O efeito colateral da internet, originalmente pensada como uma grande aldeia global de troca de experiência, conhecimento, informação numa tabula rasa moral, desembocou em incentivos ao ódio, á violência, ao isolamento excessivo e a exacerbação de um espírito tribal, com todos os níveis de intolerância, do mais aparentemente inofensivo ao mais extremista. Indo além, ela acarretou também o desenvolvimento de vícios em redes sociais e jogos online. Sem contar, na artilharia virtual de vários grupos que ganham a vida provocando o caos: destruindo reputações com fake news, atirando na democracia e nos direitos individuais. Consequência: impactos a nível pessoal e coletivo.


A inteligência artificial também tem controlado e regulado nossos comportamentos, a ponto de piorar qualquer tentativa humana de buscar autocontrole. Viramos, não raro, simples fantoches de uma maquinaria digital que convém, em muitos casos, à interesses políticos e econômicos, fazendo dos humanos simples mercadorias ou marionetes sem vontade, inconscientemente mobilizados. Parece que estamos numa prisão. Ou quase isso.


As redes sociais virtuais, tão abordadas no documentário, têm se tornado redes associais. Um defeito, talvez? Como quase tudo que existe na vida social, alguém sempre sai ganhando, mesmo que à revelia da ética. Como sair disso? Destruí-la? Regulá-la? Ou acreditar na capacidade do usuário de controlar a si mesmo? Procurem suas respostas.


Mesmo antes de assistir o documentário, tomei algumas atitudes importantes. Primeiro, retirei o som das notificações do whatsapp, facebook, instagram, youtube e twitter (o twitter ainda é algo novo que utilizo raras vezes). Foi gradual, mas já tinha resolvido dar um basta, visando uma qualidade de vida mais saudável. O som das notificações, a atualização de comentários e notícias, prendia-me demais, tomava meu tempo, tirava minha atenção, tornava-me viciado. O documentário mostra que muita gente também não quer te ver offline, afinal não é lucrativo e nem ideologicamente interessante. O algoritmo tem uma face incontrolada, mas, também, uma outra face planejada.


Sobre o whatsapp, eu deixei as notificações de grupos no modo silencioso. Foi uma vitória. Antes era um verdadeiro inferno. Saí também de alguns grupos. Já no particular, optei por deixar o celular vibrando. Talvez silencie no futuro.


No facebook, perdia realmente muito tempo; a mudança de desabilitar qualquer notificação foi formidável. Qualidade de vida, de fato. Hoje posso dizer que pouco frequento a plataforma; só mesmo para postar um artigo pessoal ou algum conteúdo do Soteroprosa. Mas ver fotos das pessoas, ficar rolando sem parar o feed, participar de discussão de grupos ou mesmo ver notícias? Isso não existe mais.


Confesso que o instagram ainda é algo que preciso melhorar. Apesar de ter diminuído a frequência, meu tempo médio diário, na última semana, foi de 29 minutos. Já tive bons avanços. Mas o feed ainda é capaz de me prender.


Nesta última parte, me concentrarei na experiência do youtube. Não é exatamente uma rede social, mas uma mídia social. Ele tem a capacidade de te deixar conectado por muito tempo. O algoritmo direciona sempre a vários canais bem legais. Ao terminar um vídeo você é sempre levado a assistir outros conteúdos semelhantes. História sem fim.


Tenho mais de 50 canais inscritos. Por dia, recebo entre 50 a 70 vídeos. Há algum tempo, consegui retirar toda notificação dos vídeos publicados pelos canais. Concentrei tudo num mesmo horário, às 22 horas. Mas isso não bastou, pois ia lá no aplicativo do meu smartphone e ficava passando o olho, perdendo tempo assistindo todo tipo de vídeo. Como sou bastante eclético em termos de consumo de conteúdo, a quantidade de canais aumentava dia após dia. Um pesadelo! É provável que eu seja assinante de muito mais canais do que imagino. Grande parte com o sininho ativado.


Vivendo muito na youtubelândia, deixava de ler mais, dormir bem, assistir a filmes e seriados, ouvir música, meditar. Percebi depois como eu era bastante impactado pelos vários tipos de informações ou críticas que afetavam, sim, meu humor diariamente. Consequência: decepção, irritação, inconformismo, tristeza. Preciso levar muito menos sério a vida! É uma constatação óbvia, leitores(as).


Youtubers, em especial, têm um poder extraordinário de influenciar seu dia, sua visão de mundo. Voz, conteúdo e gesto te prendem, colocam seu humor pra cima ou pra baixo, exceção feita a alguém super acima da média, tipo um Zaratrusta indiferente. Assistindo aos vídeos, somos telespectadores facilmente afetados! Não se engane! Incrível como você não percebe isso, a priori; só depois de algum insight ou intuição.


De um mês para cá, resolvi não assistir vídeos no youtube. Raramente, talvez um ou dois por dia, de poucos minutos, mas, geralmente, com temas bem suaves, um videoclipe ou algo motivacional. Fiz essa mudança e optei pela leitura. Tem custos, claro. Mas preferi focar e enriquecer meu capital intelectual lendo sobre política, sociedade, comportamento, filosofia, psicologia, em jornais como Folha, Uol, Estadão, ou mesmo no google notícias, sem notificações, claro. Posso dizer a vocês que fez muita diferença. Além de controlar o tempo, ao ler a coluna de um cientista político, por exemplo, que escreve semanalmente, sou mais capaz de dar mais direção à minha vida do que quando ficava com o rosto passivo na tv (algo que aprendi a controlar já algum tempo) ou com foco no universo da youtubelândia.


Meu maior medo de sair do youtube era ficar de fora do que estava rolando no mundo, nas mais diferentes esferas. Abri mão disso. Troquei a quantidade brutal de informações por leituras filtradas, diversas, é verdade, mais com controle do meu humor, sem escutar a voz de ninguém ou sendo impactado, gratuitamente, por gesticulações sobre notícias ou temas diários, que são capazes de adoecer qualquer um, afetando, em alguma medida, o equilíbrio mental e físico.


Contem aí a experiência de vocês. Posso dizer que minha saúde mental melhorou bastante com as estratégias que utilizei no uso das mídias. Também ganhei mais tempo no dia a dia para fazer outras coisas. Ainda sei que posso melhorar. Estou caminhando. Até a próxima!


Link da imagem: https://canaltech.com.br/entretenimento/critica-o-dilema-das-redes-netflix-171478/


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