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Foto do escritorJacqueline Gama

Viver em rede


A rede como ambiente de descanso e local de conexão. A rede conectada entre duas paredes sustenta um corpo. Entre duas telas, uma multidão. Viver em rede no contemporâneo é também voltar ao ancestral, mas não só.

Viver em rede é pensar na sustentação do corpo político, em plataformas que não descansam. Entretanto, o mito da rede, do ócio, engloba a fragilidade do tecido de conexões em que o corpo pode cair ou relaxar.

A rede mundial de computadores, a rede de Wi-fi, a rede de telefonia móvel, essas foram responsáveis pelas eleições de 2018 e nas municipais, em 2020, terão papel fundamental em vista da pandemia.

A mesma rede tem sustentado um corpo de pessoas que assistem filmes, fazem conferências, escrevem textos. Aqui me incluo nesse corpo ciborgue, no qual o celular é a extensão do humano. Nesse caso, a extensão de uma comunidade que faz suas sinapses através da internet.

Não para por aí, a rede não para. Diferentemente da rede de nossos ancestrais em que a pausa estava na rede, a contemporânea rede nunca dorme. Sonhos, em contramão, as duas fabulam. Se existe o inconsciente da rede imóvel, em onirismo, é na rede móvel que os imaginários se encontram.

A subjetividade dos memes, a subjetividade da contação de si em redes sociais na qual formamos nossas próprias comunidades, quem sabe uma comunidade do amanhã? Contar sem se preocupar com o tempo da fala é o que nossos ancestrais fazem, os povos originários. Também é isso que costuramos em textões e legendas de fotografias. Falamos para a nossa tribo, afetamos.

O perigo de viver na nossa própria rede é o replicar mais do mesmo. E se isolar no corpo individual. Volto para a solidão do sono em cima do tecido. Nesse caso, a rede têxtil, a qual não é possível recortar retalhos de pano e fazer dela fantasia carnavalesca, se não, ela deixa de ser rede e passa a ser outro.

Em nossas redes sociais estamos sujeitos aos algoritmos. Para o espaço sem limites que é a internet, inclusive no sentido ético, os algoritmos limitam nosso alcance, é necessário tatear e tentar subverter a própria parede criando ganchos onde a existência é possibilidade.

Assim como é possível levar o celular para todos os cantos, necessário também que o dono da rede não se limite a ela, não se limite aos seus amigos e não queira dormir na mesma parede, isso no mínimo só causaria repetições de imagens e sensações.

A potência da rede está em seu onirismo, está em sua fabulação, nos sonhos, na possibilidade de leitura em um fim de tarde, em beber uma água de coco, em se balançar, talvez até dividi-la com um outro corpo.

É nessa elaboração que a rede se faz necessária e corrente, a ideia da quebra do padrão do algoritmo e dos pensamentos que correm. A rede não é para ser gelatina, balançar e ficar estática, o que é paradoxal para um mundo de possibilidades.

A rede é para correr que nem rio e fazer conexões sinápticas com todo o corpo pessoal e social, desaguando em uma grande cachoeira de ideias e revoluções.

Capa: figura na rede (2010) Obras de arte originais, Pintura por Ana De Lourdes Araujo De Carvalho Anade Lourdes, visto em <https://www.artmajeur.com/pt/elshadayart/artworks/4644460/figura-na-rede>

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