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Foto do escritorJacqueline Gama

GORDOFOBIA E ISOLAMENTO SOCIAL


O corpo gordo é um grande tabu na nossa sociedade contemporânea. Juntamente com as formas voluptuosas e de grande beleza barroca existe todo um estigma de que estar acima do peso considerado o ideal significa não estar bem de saúde, o que é uma falácia.


Muitas vezes apresentar um corpo magro ou ao menos considerado aceitável para a sociedade é se privar de comer aquilo que é considerado “lixo” ou “ruim” para o organismo. Algo extremamente cruel já que nenhuma comida deveria ser caracterizada como tal uma vez que o alimento também proporciona prazer e une as pessoas.


Comer significa ter um cuidado com si próprio. E a ideia do autocuidado engloba a saúde mental. Então, escolher o que comer ou não, além de contribuir para a saúde física também o faz para o equilíbrio da mente.


Entretanto, ser gordo não tem a ver necessariamente com a alimentação ou a falta de atividade física, assim como ser magro não está efetivamente relacionado a esses hábitos. Cada pessoa tem um biótipo e um metabolismo. Estar saudável pode sim estar relacionado a esses hábitos, mas não necessariamente o corpo refletirá neles.


Por trás do discurso de promoção da saúde -nem sempre realista- existe toda uma pressão estética que desencadeia inúmeras doenças como anorexia, bulimia, além de ansiedade e depressão. Nessa mesma via anúncios de dietas milagrosas e suplementação se aproveitam dessa ditadura da magreza.


Em tempos anteriores a pandemia, toda essa discussão era debatida dentro da vida corrida entre McDonald e academia. Porém, com o isolamento social, olhar para dentro de si se tornou quase que uma necessidade e com isso veio os incentivos para fazer atividade física em casa e não comer certos alimentos.


Fazer atividade física pode diminuir sim a ansiedade e melhorar o humor ao liberar hormônios que equilibram o funcionamento do cérebro e do próprio corpo, mas fazer isso para manter apenas uma estética durante a pandemia é um ato masoquista, assim como em qualquer outro período.


A mesma coisa ocorre com relação a alimentação. Alguns alimentos podem proporcionar um bem estar. Volta e meia vejo posts e até amigos comentando que sairão mais gordos desse isolamento social. Algo extremamente preocupante e que deve ser revisto: por que ser gordo é considero feio?


Sobre a pergunta, em certa medida isso tem muito a ver com o poder. Quem tem mais dinheiro pode investir mais no corpo, afinal cirurgias plásticas, comidas consideras fitness, academia, tudo isso tem um custo financeiro e se faz necessário tempo, algo que um trabalhador comum normalmente não tem.


Essa concepção está na nossa sociedade talvez desde antes do barroco, por que ser gordo na idade média ou nos períodos de monarquia era bonito? Porque se aquelas pessoas eram gordas elas tinham comida, logo tinham poder.



Também vale ressaltar que existe uma diferença entre ser gordo e não estar dentro do padrão estético, que se aplica aquela pessoa que antes era considerada magra, mas que ganhou peso. Algumas dessas diferenças é que o gordo tem dificuldades para encontrar roupas de uma numeração, algo que se agrava com as vestimentas ditas femininas. Além de dificuldades em acentos em locais públicos, por exemplo. Ou seja, a gordofobia de fato impacta na mobilidade dessas pessoas e no bem estar individual.


Contudo, não podemos descartar o teor gordofobico de memes como os da quarentena, foto de capa. Uma vez que compara um corpo esteticamente dentro do padrão a um corpo considerado fora do padrão. É necessário que esse tipo de postagem seja problematizada e se possível não propagada, afinal isso fere pessoas que de fato sofrem com a gordofobia diária e reforça ainda mais a pressão estética já impregnada na sociedade, algo extremamente negativo para o momento atual em que já existem tantos gatilhos para o mal estar.


Engordar ou ser gordo não deveriam ser sinônimos de pecado, apesar de ironicamente a gula ser um dos sete pecados capitais e estar relacionada no imaginário social aos biótipos não magros. Mas como diz a música “Carne e osso”, interpretada por Zélia Ducan: “Alegria do pecado às vezes toma conta de mim e é tão bom não ser divina, me cobrir de humanidade me fascina.”


Nesse momento de pandemia – e em qualquer outro- o que mais precisamos é de alegria e ela pode estar presente nos polichinelos ou no bolo de chocolate. Então se permita a estar bem, apesar de tudo.


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Para saber mais


Youtube:


Alexandrismos : https://www.youtube.com/channel/UC2LQ5jMieMZjb5k5Gprp2JQ


Bernardo Fala: https://www.youtube.com/channel/UCv1RFVLBWD-cqUwocOF2qKQ/playlists


Ela Preta Afronta Milly : https://www.youtube.com/channel/UCdw6sVO6qXumcEXewF2HAPQ




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