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Foto do escritorEquipe Soteroprosa

La casa de papel: é preciso falar sobre tortura


A quarta temporada de “La Casa de papel” (dir. Álex Pina), disponibilizada pela rede de streaming Netflix em 2020, suscitou um debate extremamente necessário: a tortura. Um dos personagens se expõe ao relatar que foi torturado. Os cidadãos espanhóis ficam chocados com tamanha crueldade, pressionando as autoridades a responder por esses crimes, gerando um plot-twist (reviravolta) na série e reações adversas do espectador, em especial o brasileiro.


A ditadura militar brasileira completou 56 anos no último primeiro de abril, ela é interpretada como revolução por uma parcela da sociedade, incluindo o presidente. Quando se trata de um regime fascista que despareceu com corpos de seres humanos, torturou e cessou a liberdade de muitos brasileiros, sobretudo estudantes e artistas.


A tortura, no contexto brasileiro, muitas vezes quando mencionada, é diminuída e descreditada com frases como: “não foi bem assim” ou “isso não existiu”, ou ainda é romantizada com requintes de violência ao ponto de dizerem: “mas eles mereciam”, essa última frase segue a linha do “bandido bom é bandido morto”.


Na nossa história nacional de não ficção que mais se aproxima de uma distopia do real, o presidente Jair Bolsonaro ainda quando era deputado ao votar a favor do impeachment de Dilma Rousseff em 2016, homenageou o coronel Ustra, torturador da presidenta deposta. Mesmo apoiando os crimes contra a humanidade, em especial, a tortura, ele foi eleito presidente em 2018 e continua no poder em 2020, apesar da sua baixa popularidade e atitude genocida ao que tange a desobediência de medidas preventivas ao COVID-19.


A tortura se caracteriza como crime contra os direitos humanos, estando explicitada na Declaração Universal dos Direitos Humanos, de dezembro de 1948, pós segunda Guerra Mundial, palco de um enorme genocídio. No artigo quinto da declaração está escrito: “Ninguém será submetido à tortura nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante.” Mas não levamos esse crime a sério e deixamos passar esse relâmpago da história, para utilizar um termo Benjaminiano em seu texto “Teses sobre o conceito de história”, de 1940.


Me pergunto, por que nós brasileiros não recordamos a nossa ditadura como os nossos vizinhos chilenos por exemplo? Ou os uruguaios? Ou os argentinos? O que o Brasil fez para esquecer a sua história? Faltam monumentos e passeatas recordando, novelas, filmes exibidos na televisão aberta, apesar de faltarem produções, temos “Zuzu Angel” (2006, dir. Sérgio Rezende), “Pra frente Brasil” (1982, dir. Roberto Farias) , “Tatuagem” (2013, dir. Hilton Lacerda), além de muitos outros que basta dar uma pesquisada no google para encontrar.


Inclusive é bom recordar que o Governo de 2020 censurou muitos filmes, dentre eles “Marighella” (2019, dir. Wagner Moura) o qual relembra exatamente a ditadura brasileira através do guerrilheiro que lutou contra o regime ditatorial. Mais uma vez mostrando que o momento histórico em que estamos vivendo muito se aproxima daquele de outrora, apesar das circunstâncias se diferenciarem.


A história passa pelos nossos olhos e estamos no olho da história. É preciso olhar para trás para não se perder nesse hipocampo do presente e para que no futuro as imagens não soem como um flashback, apesar da peça possuir outro cenário. É preciso falar sobre isso e não esquecer nunca, tanto do hoje quanto do ontem. É necessário mais do que slides na parede de sacadas de prédios e panelaços, é necessário fazer com que os algozes respondam pelos crimes cometidos e vexados assim como as autoridades em “La Casa de Papel.”


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Para saber mais:


Declaração Universal dos Direitos Humanos, 1948: <https://www.ohchr.org/EN/UDHR/Documents/UDHR_Translations/por.pdf>

Teses sobre o conceito de história, Walter Benjamin, 1940: <https://edisciplinas.usp.br/mod/resource/view.php?id=2110821>

Fonte da imagem de capa: <https://i0.wp.com/mixdeseries.com.br/wp-content/uploads/2020/04/La-Casa-de-Papel-Parte-4-spoilers.jpg?fit=1050%2C600&ssl=1>

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