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Foto do escritorCarlos Henrique Cardoso

A série Sex Education: Afinal, quem são os adolescentes?


No último dia 3 de fevereiro, o Ministério dos Direitos Humanos, Família, e Mulher lançou uma campanha de incentivo à abstinência sexual a ser veiculada com o objetivo de limitar a atividade sexual entre jovens dos 10 aos 18 anos, mote da iniciativa. Para os idealizadores, não transar é o método anticoncepcional mais confiável. O plano também prevê a prevenção à gravidez precoce. Realmente, a taxa de gestação entre as adolescentes brasileiras é maior que a média mundial: 62 a cada mil. No mundo, é 44 por mil. Um site de notícias publicou uma enquete que mostrou apoio à campanha. 57,8% acham correta, enquanto 42,20% foram contra. Apesar de não se ter ideia do perfil dos leitores, é um número relevante de aprovação.


Um informativo para os jovens não transarem é a melhor opção para controle de doenças transmissíveis e gestação? Provavelmente não. É preciso avançar na discussão sobre o papel das instituições de ensino na educação sexual, assim como orientação para integrantes dessa faixa etária, bombardeados por conteúdos eróticos e pornográficos nas redes sociais e aplicativos de mensagens. Dúvidas de quem passa pelo período transitório para a vida adulta sempre foram comuns, como mostra a série inglesa “Sex Education”, disponível na Netflix. A segunda temporada estreou há poucas semanas e já foi confirmada uma terceira, ainda sem data fixa.


A trama se passa em um colégio de ensino médio e gira em torno de Otis, adolescente que mora com a mãe, uma terapeuta sexual de sucesso. Na escola, alguns alunos começam a viver dramas e hesitam sobre atividade sexual que exercem. Por acaso, Otis faz uma recomendação a uma jovem, que obtém resultado. A partir de então, seu suposto conhecimento se espalha e ele passa a cobrar dos colegas para resolver problemas ligados à masturbação, desconhecimento do corpo, frigidez, falta de orgasmo e outras questões. Porém, o protagonista ainda é virgem e vê seu coração dividido entre duas paixões, que não consegue solucionar.


Dai, surgem temas que afligem muitos púberes: homossexualidade, sexo sem proteção, amor não correspondido, assédio moral e sexual, virgindade, relação conturbada com os pais, baixa autoestima, carência afetiva, pressões para êxitos, sororidade, assexualidade e até vaginismo. É notável a diversidade étnica do elenco, que conta com personagens divertidíssimos e hilários (como o melhor amigo de Otis, o folgazão Eric). No entanto, a segunda temporada apresenta uma participação maior dos adultos, incluindo professores, demostrando que eles também apresentam dificuldades no exercício da prática sexual, assim como dificuldades no relacionamento, e estranheza de comportamento quando parceiros são trocados.



Já escrevi sobre outras duas séries envolvendo efebos (“A Sociedade” e “Nós Somos a Onda”, links nas fontes) e mencionei a possível falta de interesse dos espectadores em apreciar algo com conteúdo envolvendo jovens falando besteiras, piadas grosseiras, realizando festas débeis, e tomando atitudes intempestivas. Porém, quando assistimos o noticiário nos damos conta de que vivemos numa era de atitudes absolutamente juvenis. É ministro chamando mãe de internauta de “égua sarnenta”; é gente editando vídeos infames (como o do leão e as hienas); deputados trocando farpas colegiais; declarações ignóbeis de membros de secretarias( “cardume inteligente” e “peixes suicidas”); governador gravando conversas com o vice-presidente e divulgando ao vivo numa live – uma completa criancice! - Presidente da República falando idiotices pelos cotovelos, se comportando como um Jojo Rabbit sessentão (sempre na companhia de seu amigo imaginário, Donald Trump); membros do alto escalão vomitando truculência como um jovem petulante discutindo com os pais. Afinal, onde estão as fronteiras entre a puberdade e a maturidade? Sem dizer que a série, bem estruturada, mostra que gente importante também comete infantilidade típica de um garoto mimado. E muita gente que apoia esse governo “adulto” miram suas metralhadoras verbais para uma adolescente sueca de 16 anos que está contribuindo com sua preocupação com o meio ambiente e sua destruição em escala industrial. Falo da ativista Greta Thunberg, ofendida inúmeras vezes (pirralha, retardada, oportunista, chantagista...), apenas por mostrar sua altivez em peitar autoridades do mundo todo em sua luta contra a desestabilização do clima, ao contrário de outros de sua faixa etária, voltados para práticas de bullying, bebedeiras, sucessos populares, e consumo de ansiolíticos (já escrevi sobre isso também, link abaixo!).



Fazendo uma ligação com a proposta do projeto de abstinência, proposta pela Ministra Damares Alves (outra que também toma atitudes risíveis), vemos que a série transparece clara mensagem da importância da educação sexual nos serviços de orientação estudantil. Se os conselhos de Otis funcionam a priori, com o tempo se desenrola uma série de incongruências que evidenciam o perigo de jovens de 16 anos instruírem a si mesmos. Nem toda família é estruturada para nortear a sexualidade adolescente (isso também aparece na série) e, portanto, a comunidade de pais e mestres precisam dialogar sobre os rumos lascivos dos filhos e estudantes. A campanha mal começou e os resultados ninguém tem ideia. Porém, ao assistirmos “Sex Education” e o jornal da TV, verificamos que - assim como os índios – os adolescentes se tornam cada vez mais seres humanos iguais a nós*.


* Frase irônica. Refere-se a uma infeliz fala de Bolsonaro: "Cada vez mais, os índios se tornam seres humanos iguais a nós"

FONTES:

https://www.todospelaeducacao.org.br/conteudo/para-que-serve-a-educacao-sexual-na-escola/


https://www.metropoles.com/saude/onu-alerta-para-alto-indice-de-gravidez-na-adolescencia-no-brasil


https://www.topmidianews.com.br/saude/maioria-dos-leitores-apoia-campanha-de-abstinencia-sexual-da-ministra/124285/


https://www.soteroprosa.com/single-post/2019/11/20/A-s%C3%A9rie-N%C3%B3s-Somos-A-Onda-e-a-luta-contra-o-sistema


https://www.soteroprosa.com/single-post/2019/10/25/A-s%C3%A9rie-A-Sociedade-e-o-processo-da-maturidade


https://www.soteroprosa.com/single-post/2019/09/27/Quem-tem-medo-de-Greta-Thunberg


Fonte da imagem: site O Liberal


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