Distopias em livros, séries e filmes mostram um futuro nada otimista, pior que o presente, sombrio, marcado por enormes conflitos, pela servidão, escravidão, tirania e barbáries que fazem retroceder o que costumamos chamar de civilização. Essas histórias revelam, explicita ou implicitamente, a necessidade de repensar os atos do presente sob o risco de cometer bobagens impensáveis, levando a um caos permanente. Algumas ideias materializadas, em larga escala, podem trazer resultados desastrosos à humanidade.
Já as grandes utopias mostram uma realidade melhor do que o presente, pois procuram pautar contextos onde inexistem despotismo, propriedade privada (em alguns casos), corrupção, ganância, medo, servidão, violência, autoritarismo. O mundo utópico projeta uma sociedade superior: fraterna, pacífica, recíproca, justa. O futuro é uma luz no fim do túnel. Nada é impossível ao engenho humano.
Existe nessas diferenças de conceber a realidade, duas visões de mundo bem claras: conservadora e progressista. Utilizarei esses tipos ideais para relacioná-los com distopia e utopia, respectivamente, deixando de lado os elementos mistos, que fogem ao modelo proposto. Desde já, não irei tomar partido de um ou outro; deixo a cargo dos livres leitores!
O típico conservador raiz tem aversão a ideias mirabolantes! Tem receio de andar sem um farol, sem as velhas referências. No seu entender, ações aventureiras podem destruir a coesão social cristalizado em séculos de convivência. Em sua visão, as coisas não podem ser modificadas de um dia para outro: a moderação é uma ética inquestionável. Toda tentativa de revolucionar o agora deve ser vista com bastante cautela, pois sempre há o risco de infundir em desordem. Tudo deve ser refletido antes de querer “consertar o mundo”, pois mudanças podem ser extremamente danosas. A cautela, a prudência são as principais características do conservador nato, sobretudo porque amanhã pode ser pior do que hoje. O humano pode torna-se mais bárbaro do que é. Nada garante que atitudes extraordinárias gerarão resultados satisfatórios.
O conservador se afeiçoa às distopias porque elas fazem acender o sinal de alerta sobre a pretensa tentativa racional de revolucionar o presente, negligenciando as consequências indesejadas. O fim, diz ele, pode não sair como planejado. As coisas podem se agravar. As relações políticas, religiosas, econômicas, culturais, familiares podem seguir cursos perigosos e desajustados ao convívio. Futuros indesejados são frutos da ação humana na sua tendência em crê na perfectibilidade, na perduração da existência, onde tudo será mais virtuoso. Portanto, o conservador rechaça aqueles que se apresentam como heróis e líderes salvadores que falam de um mundo melhor a partir de determinadas ações espetaculosas; também são céticos quanto à ciência e as ideologias políticas que prometem sociedades evoluídas. A distopia escancara possíveis futuros obscurantistas.
Por outro lado, a utopia identifica-se com a visão de mundo progressista. Esta mente, em geral, acredita na capacidade racional de criar uma existência melhor, moldada pela tecnociência hiperdesenvolvida, por uma economia mais justa, com melhor redistribuição material, e uma moral elevada calcada em laços universais. É a capacidade de aperfeiçoamento dos sapiens, no nível individual e social, o verdadeiro mantra do progressista. Ele tende a acusar de cético e pessimista, comprometido com o status quo, a mentalidade conservadora.
É possível vencer as mazelas planejando um futuro próspero! A maneira de enxergar o humano, essa confiança natural na capacidade de ultrapassar os limites, os instintos e desejos primitivos, enterrando os ímpetos egoístas, em favor da liberdade e da fraternidade universal, eis a constante do utopista. Além do mais, a tradição tende a ser vista como caquética, ultrapassada, em descompasso com o espírito do presente. A mudança é o princípio categórico. O passado é negado em vista de um futuro diferente, superior. O presente é a escalada para o amanhecer esplendor, colossal.
Nobilíssimos, recordo e reitero que essa breve análise é uma construção intelectual arbitrária, pois no mundo real as pessoas podem não são modelos puros: nem completamente conservadoras nem completamente progressistas. Em relação aos filmes, séries e livros utópicos e distópicos, pode-se dizer que são excelentes indicativos, bastante criativos, de como seria o futuro - pior ou melhor. Mas, em cada caso, é possível avaliar, minuciosamente, o que pode ser considerado positivo ou negativo à humanidade. Exercício para outros textos.
Até a próxima!
Fonte da imagem: https://homoliteratus.com/5-grandes-romances-distopicos/