O governador da Bahia Rui Costa declarou ser favorável a cobranças de mensalidades de estudantes “que possam pagar” matriculados em universidades públicas. Para ele, o assunto não deveria ser tabu. Também defende novas formas de financiamento, incentivo de doações, e parcerias com a iniciativa privada. “Uma família que pagou educação privada a vida inteira não tem condições de contribuir com a universidade? Qual o problema disso?”,questiona o governador, que vem enfrentando uma greve de professores e funcionários nas quatro universidades estaduais do seu estado há mais de um mês.
O assunto gera diversas opiniões, mas devemos tratar com dados a possibilidade e vantagens do pagamento de mensalidades. Segundo pesquisa divulgada no último dia 17 de maio pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Nível Superior – ANDIFES – 70,2% dos discentes são de baixa renda, ou seja 7 em cada 10 (renda per capita de até 1,5 salário). Estudantes com renda familiar acima de dez salários não chega a 1%! 51,2% se declaram negros. O presidente da instituição confirma que o resultado “desmistifica qualquer informação que as universidades são majoritariamente da elite econômica”. Arrecadação por meio de mensalidades seria inócua para solução de problemas financeiros. Caso entrasse em vigor, funcionaria apenas como conforto psicológico para quem é favorável à medida. Isso demonstra que avistar um estacionamento em algum campus repleto de carros importados, não justifica nada!
Precisamos estar atentos mesmo é no baixíssimo investimento das instituições privadas de ensino superior. Um relatório divulgado no ano passado pela equipe de Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES – com o título “Research in Brazil” mostra que as universidades particulares praticamente não produzem nada em termos conhecimento científico. Isso é preocupante. Com o advento do Prouni – programa de bolsas integrais implantado durante o governo Lula – houve o fomento do setor e crescimento no número de instituições privadas. Alguns cursos oferecidos por essas faculdades possuem mensalidades altíssimas, sem no entanto, ressaltar um crescimento de cientistas qualificados. Ou seja, aporte de dinheiro não corresponde necessariamente a aumento de produções. Pra variar, grandes empresários também não costumam investir em pesquisa no país. A inadimplência dos estudantes vem aumentando, juntamente com as dificuldades no financiamento estudantil.
A instabilidade econômica, o aumento do desemprego, e a esperança por reformas que viabilizem maior segurança a investidores, geram estagnação financeira que atinge em cheio a expectativa dos universitários. Além das dificuldades no mercado de trabalho, não há garantias de que um graduado terá grandes oportunidades de exercer o ofício aprendido nos anos da graduação. Quanto ao aluno oriundo de instituições federais, ao invés da viabilidade da mensalidade – que vem à tona logo nesse cenário de crise – estabelecer programas de auxílio após a conclusão do curso seria mais proveitoso, como arquitetos recém-formados realizando projetos urbanos em comunidades carentes, talvez. Uma espécie de retorno social do investimento do estado em sua formação.
Como vimos, existem várias dificuldades enfrentadas pelo estudante de ensino superior no país. Cobrar mensalidades, seria mais uma pendenga em suas costas.
Fonte:
https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2019/05/mensalidade-em-universidade-publica-nao-deve-ser-tabu-diz-governador-do-pt.shtml
https://guiadoestudante.abril.com.br/atualidades/mais-de-70-dos-alunos-das-universidades-federais-sao-de-baixa-renda/
https://cartacampinas.com.br/2018/01/xrelatorio-internacional-mostra-que-universidade-particular-no-brasil-nao-produzem-conhecimento/
http://www.vermelho.org.br/coluna.php?id_coluna_texto=6229&id_coluna=96