Por: Neusa Maria dos Santos Pires
A leitura de obras literárias no processo de ensino aprendizagem é vista como um recurso a mais na reflexão da realidade, a história local; aprofundar o saber de nossa cultura; nossos costumes; modo de comportamento e questões sociais. Em tempos de muita discussão e pouca reflexão, surge a necessidade de trazer para a pauta: a importância da leitura e discussão desses romances que inspiram tantos filmes, peças de teatro e telenovelas.
Destacamos no nosso universo literário as obras de Jorge Amado, a exemplo: a obra Gabriela Cravo e Canela e tantas outras que fez a Bahia ser reconhecida mundialmente, com preciosidade de detalhes. No Brasil, o gênero literário vem se consolidando ao longo do tempo.
A ficção histórica promove aos leitores detalhes relevantes, favorecendo pesquisas e estudos a partir do texto literário. Fatos históricos são contextualizados e apresentados de maneira prazerosa, e , ao mesmo tempo, curiosa a quem ler. Na escola, esse tipo de literatura serve de subsídio, com o intuito de traduzir acontecimentos verídicos sob a ótica artística.
Visando discutir o aspecto da leitura como uma prática social, Zimermann (1989) salienta que a compreensão do texto literário se faz necessária, particularmente no que condiz o desenvolvimento cultural do sujeito leitor. Neste sentido, a leitura da narrativa histórica requer atenção para o discurso e a abordagem na qual se reporta.
O romanesca de caráter aberto, ficcional, trata das relações sociais e da alma de personagens intrigantes, de uma geração, época, lugar do passado e vislumbra o presente, possibilitando o encontro com a dualidade da situação: o real e a intenção do autor. Esse poder de interação pode ser utilizado de diversas maneiras na concepção da história social e no entendimento dos acontecimentos contemporâneos.
Fleck (2005) afirma que existe muita semelhança entre a o pensar do historiador e do romancista histórico na recuperação dos fatos e dos personagens do passado. Isso é devido às matérias que estes utilizam, mesmo que de modo diferenciados, produzidos na contemporaneidade.
Conforme o teórico, não importa o olhar poético ou realista, as visões podem ser distintas, porém o objetivo se finda na vontade de refletir sobre a natureza dos seus personagens do passado, e como influenciou na constituição do presente.
Lajolo (2004) enfatiza a relevância dos romances históricos na construção da identidade nacional. A autora, em seus estudos, evidencia que a solidificação dos enredos se dão através da retomada de elementos do contexto histórico, a relação direta com a cultura, o espaço físico-geográfico e, sobretudo, o cotidiano dos personagens.
Por falar em história, esse tipo de literatura, pode ser utilizado como fonte de informação ou referencial à pesquisa. Essas obras ficcionais, e a sua utilização, foi por muito tempo no Brasil considerada como Tradição documental. Ficou curioso? No Período Colonial, eram escritos os ofícios e relatórios, e as exigências da escrita recomendava que aliasse o imaginário aos negócios.
Assim, a conhecida carta de Pero Vaz de Caminha é considerada o primeiro documento de cunho literário do Brasil. A realidade descrita na carta relata aspectos reais dos costumes dos habitantes indígenas e dados importantes sobre a natureza exuberante e dos aspectos deslumbrantes das paisagens.
O papel social atribuído à leitura da ficção histórica contempla as análises de teóricos e críticos literários. Retomando ao âmbito da aprendizagem, o texto histórico contempla o leitor com um discurso válido, na medida em que a realidade traduz o contexto sócio cultural de um povo, uma nação, um lugar ou momento que deve ser lembrado, numa perspectiva atualizada e ampliada.
Ressignificar a história, partindo da leitura de ficção, é um exercício de criticidade interessante. A concepção de romances históricos parte do pressuposto que mesclam fatos ficcionais reais. São histórias interessantes que nos levam à viajar no tempo, em espaços nunca vistos, e entender outras formas de ver e viver no mundo. A informação contida nessas tramas nos permite um olhar diferente ao passado e na compreensão do presente.
A história e a literatura podem caminhar juntas no processo de aprendizado, desde quando o preconceito seja colocado de lado. A História sempre terá o seu lugar e será inspiração para muitos escritores. O texto realista do romance histórico será uma contribuição relevante na valorização da literatura no âmbito na memória cultural.
Deixemos o preconceito de lado e vamos revisitar a nossa História, através das páginas dos nossos romances históricos? A geniosidade dos nossos escritores torna o aprendizado um convite à crítica, ao debate e a aventura de viver em outros tempos.
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