Há vários questionamentos acerca das antigas concepções epistemológicas vis a vis aos novos desdobramentos científicos, verdadeiros para uns, falsos para outros, sobre o que seja a realidade.
Ao mergulhar no campo do conhecimento, apresentam-se construções epistemológicas que, quase sempre, evocam uma visão dualista de “mundo real”. [1] É fato que a ciência procura aproximar-se, da melhor forma possível, com a realidade, através de hipóteses, pesquisas e grandes teorias. É legítimo, também, a obsessão do pesquisador na busca da verdade, mesmo que nossa trajetória indique que esse santo graal perseguido é transformado pelo tempo. Novas concepções - mais adequadas e aceitas - da comunidade científica surgiram de velhos edifícios.
Discussões como corpo e mente, natureza e cultura, indivíduo e sociedade (principalmente nas ciências humanas), consciência e inconsciência (estudos da mente), pressupostos duais que estão na espinha dorsal da ciência hegemônica, têm sido frequentemente questionados ao longo do tempo. Críticas mais duras sugerem o suposto afastamento do ser humano de si mesmo, da sociedade e natureza.
Uma questão sempre revisitada no âmbito acadêmico: há algo para além da compreensão humana, algo não material, que possa ser considerado como um campo legítimo de pesquisa? Emerge-se, de forma cada vez mais latente, conceitos metafísicos, atemporais, a-espaciais no campo científico. Uma problematização do atual paradigma materialista!
Desde o início do século passado, em especial, a partir dos estudos da Física Moderna, houve um amplo debate sobre o paradigma científico ascendente naquela período, sobretudo o mundo sui generis das partículas subatômicas.[2] Emergira um novo campo de estudos, que chacoalharia o campo acadêmico, principalmente após a teoria da relatividade do físico alemão Albert Einstein, e a descoberta da partícula-onda, na qual o observador tem uma influência real ao olhar para o objeto microscópico - fóton ou elétron – estes podendo se comportar como onda ou partícula (massa).[3]
As descobertas desdobraram-se a uma série de novas pesquisas na área da física de partículas,[4] inclusive sobre a posição dos elétrons. (Atualmente os físicos discutem para onde vai o elétron; alguns especulam que seria além do espaço-tempo). A própria Física Moderna penetrou em diversas áreas do conhecimento como a psicologia e a medicina.[5] Nesse campo novo da física, diversas vertentes teóricas surgiram, como a física da consciência[6], teoria dos universos paralelos,[7] teletransporte subatômico, teoria das cordas.[8]
Aquilo que chamaríamos outrora de fantasias, misticismo, sonhos e ficção, hoje estão sendo seriamente estudados cientificamente, como possibilidades reais. Contudo, há inúmeras acusações por parte do establishment acadêmico: pesquisas que são consideradas pseudocientíficas, que contaminam a própria instituição, e que vão de encontro ao método tradicional. Mas, é fato, que a ciência física tem se aproximado muito do campo das especulações da filosofia e do misticismo. Nesse ponto, há uma enxurrada de físicos que escreveram sobre física e espiritualidade, inclusive comparações com filosofias e religiões orientais. Acadêmicos têm posto em xeque o método hegemônico. Até a noção de superioridade objetiva em detrimento da subjetividade, na pesquisa, tem sido colocada em xeque.
Mais um degrau. A partir do século XX, o paradigma científico calcada nas bases cartesianas (divisão corpo e mente), baconianas (empirismo racionalista) e newtoniano (mecânica clássica) foram sendo questionadas, pelas novas descobertas apontadas acima. Há, portanto, uma problematização das estruturas basilares e seculares da ciência. Novos paradigmas, que chamamos de multidisciplinares, tiveram desdobramentos acarretados pelo impulso da ciência física. Com as novas evidências, abriram-se as portas às diversas interpretações do real. O ser humano passou a ser considerado como um ser social, psíquico, biológico ou orgânico - que pertence a uma natureza - , e espiritual (a Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1988, determinou que a espiritualidade é um campo da dimensão humana. Essa multivisão do humano ainda tem sido desprezada ou negligenciada pela ciência, que estabeleceu áreas estanques de conhecimento. Analisar o indivíduo fragmentado é compará-lo à máquina: as peças são desmontadas e recolocadas para ver seu real funcionamento. Em suma, o ser humano ainda é visto, objetivamente, como um robô falante!
Recentemente, o termo holístico tem sido utilizado para pensar o ser humano, na tentativa de maior integração. Isso significa, por exemplo, que um médico, ao tratar o paciente com uma patologia qualquer, deve levar em consideração o contexto social do qual está inserido, sentimentos, genética, processos químico-biológicos, alimentação etc., do doente em questão; ou seja, um processo multidisciplinar de atuação. Tratar o indivíduo como um ser multidimensional torna mais efetivo o diagnóstico. É preciso ir além de uma simples cura imediata; é importante saber o que causou o problema específico.
Por fim, este pequeno ensaio não tem o intuito de esgotar as discussões; visa somente suscitar ou despertar a curiosidade sobre os novos temas que pairam desde o século passado. As portas estão abertas para as novas questões!!!
Fonte da imagem:
http://arealidadedemadhu.blogspot.com.br/2015/04/o-que-e-realidade.html
Referências
[1] O conceito de realidade é muito discutido desde o século passado pelos físicos e químicos.
[2] O alemão Max Plank – 1858\1947, nascido em Gõttingen, considerado o pai da física quântica.
[3] Quer dizer, o observador influencia a conduta das partículas macroscópicas, ou seja, na coisa observada. Como tudo que existe é formado por partículas, o observador cria sua própria realidade, a partir do olhar que ele direciona o mundo. Assim, também, foi descoberto que os átomos são constituídos de energia, a bomba atômica é um exemplo real. Portanto, se tudo que existe é constituído dessas “coisas quânticas”, os seres humanos fazem parte desse gigantesco campo de energia.
[4] GlEISER, Marcelo. Mundos Invisíveis. Da alquimia à física de partículas. São Paulo: Globo, 2008.
[5] GELEBER, Richard. Medicina Vibracional. São Paulo: Cultrix, 1988.
[6] WALLACE, B. A. Dimensões escondidas: a unificação da física e da consciência. Tradução de Lúcia Brito. São Paulo, 2009.
[7]GREENE, Brian. A realidade oculta. Universos paralelos e as leis profundas do cosmo. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
[8] GREENE, Brian. O Tecido do Cosmo. O espaço, tempo e a textura da realidade. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.