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Foto do escritorEquipe Soteroprosa

Psicologia Junguiana e O Homem como "Ser de passagem".


Caros leitores, no texto dessa semana contemplo o grande mestre Carl Gustav Jung , por entender a magnitude, relevância e grandiosidade da sua teoria. Dessa forma, apresento de forma resumida alguns dos seus principais conceitos. Espero, a partir de então, contribuir com a abertura de novos horizontes e possibilidades de leitura sobre a Existência Humana. Boa leitura!

Para Jung, o Homem não é o ponto de chegada, é um Ser de passagem, ele não tem fim. Isso significa dizer que o Homem vai existindo para si mesmo na medida em que se revela. A psicologia junguiana é uma tentativa de dar forma ao trajeto de um “ser em passagem” e não de um “ser finalizado”. Para isso, Jung busca entender o “como se das coisas”, que circula em torno da pessoa, da psique, ou seja, procura extrair o “sentido da realidade” e não para dizer o que a realidade é em si. O Homem é, portanto, um objeto de construção subjetiva ligada a consciência, tanto na voz passiva quanto ativa ao mesmo tempo.



O pensamento de Jung circula em três tempos, em três modelos, sendo, respectivamente: modelo científico (1902-1912); modelo estético-místico (1912-1930) e modelo mítico religioso (1930-1961).



No modelo científico de 1902 a 1912, Jung se associa a Sigmund Freud e entende o Inconsciente como um complexo reprimido e utiliza como método para alcançar os conteúdos do inconsciente a “redução”, que se dá através da “escavação”, entendendo que “toda equação é uma redução”. O inconsciente é visto como autônomo e sua melhor representação seria através da “palavra”. Nesse momento está presente o paradigma de “causa e efeito”, o “efeito” estando no presente e a “causa” no passado. O Ego é entendido, portanto, como gramatical, sendo a “palavra” o ponto de escavação para entender o que está por trás.



Em 1912 a 1930, a partir do método estético-artístico, Jung fala sobre o Inconsciente Coletivo e faz uma ruptura epistemológica e, consequentemente, rompe com Sigmund Freud. Nesse período Jung procura se relacionar com o que está posto, com o que se mostra, vai em direção ao que se “apresenta”, ao que está “a frente”. O Symbalen, ou seja, o Símbolo, como ideia de ampliação, torna-se o meio para alcançar o entendimento da psique. A totalidade da psique é vista como um paradoxo, sendo o “Símbolo”, portanto, a expressão fiel para alcança-lo.


Só então a partir de 1930 a 1961, com o modelo mítico religioso, Jung traz a concepção de individuação e sincronicidade. A psique passa a ser compreendida como o “entre si” e o “entorno” de tudo o que existe. O inconsciente passa a ser visto como incognoscível, o campo do mistério. Através do método apofágico o tempo passa a ser o presente e o lugar, o campo do silêncio, aquilo que a palavra não pode dizer. O “estar presente”, portanto, pode expressar-se através da “atitude religiosa”, do “religio”, que sintetiza o estar atento aos sinais, “religere”, e a reconexão, retorno ao Ser, “religare”.



Jung se propôs a compreender a psique a partir de uma teoria compreensiva da personalidade, pois a psique, na psicologia junguiana, é a personalidade como um todo. Para entendê-la, portanto, é necessário compreender sua estrutura, dinâmica e desenvolvimento.



O conceito de psique, para Jung, está relacionada a compreensão da pessoa como um todo, em primeiro lugar: “O homem não luta para tornar-se um todo; ele já é um todo, ele nasce como um todo”, (HALL, C.S. NORDBY, V., 2005, p.25). A meta, dessa forma, é tornar-se o que já é. Em sua estrutura, a psique se distingue em três níveis: a consciência, o inconsciente pessoal e o inconsciente coletivo, todos interatuantes.



A consciência ou consciente é compreendida como a função ou atividade que mantém a relação entre conteúdos psíquicos e o ego. É a única parta da mente conhecida diretamente pelo indivíduo. Nela atuam as funções de percepção consciente da realidade que Jung denominou de pensamento, sentimento, sensação e intuição, e as duas atitudes que determinam a orientação da mente consciente, introversão e extroversão. A consciência de uma pessoa se individualiza a medida que se diferencia da de outras pessoas, sendo esse processo concebido por Jung como individuação, a meta de todos nós. É somente a partir da individuação que se alcança a auto-realização, sendo o autoconhecimento o caminho condutor.



Ainda no campo da consciência, é possível falar sobre o Ego, pois ele se configura como a organização da mente consciente que se compõe de percepções conscientes, de recordações, pensamentos e sentimentos. Em síntese, atua como vigia da mente. Ele fornece à personalidade identidade e continuidade. O Ego e a individuação atuam interligados um com o outro a fim de promover o desenvolvimento e integração da personalidade, tarefa de muita exigência energética e nem sempre facilmente degustável. O Ego dever ser encarado como parceiro, mas nunca como o dono da casa. É preciso desenvolver uma relação de parceria com o Ego, mas não de identificação, pois sem ele não seria possível conviver em sociedade da forma tal e qual a concebemos e vivenciamos nesse campo da materialidade.



Um outro nível da psique é o Inconsciente Pessoal, compreendido como o campo de experiências do indivíduo que não estão na consciência, mas que podem tornar-se conscientes. Tais conteúdos podem ter acesso à consciência, a depender do grau de energia psíquica em torno de deles. Se associa muito a compreensão de inconsciente de Sigmund Freud. A eles estão associados os Complexos, um conglomerado de conteúdos psíquicos, relacionado às experiências do indivíduo, reunidos em torno de um Arquétipo. Enquanto que o complexo se origina no inconsciente pessoal, os arquétipos têm origem no inconsciente coletivo. O complexo é a personificação do arquétipo, tendo este como seu núcleo. O complexo é vida psíquica, não existe vida sem os complexos.



A outra instância de nível psíquico é o Inconsciente Coletivo, entendido por Jung como um campo de ação da psique, diferente do inconsciente pessoal pelo fato de não depender da experiência pessoal. É assim entendido como um reservatório de imagens latentes, em geral denominadas “imagens primordiais”. O homem herda tais imagens do seu passado ancestral, passado que inclui, conforme aponta Hall e Nordby (2005, p.32), todos os antecessores humanos, bem como os antecessores pré-humanos ou animais. O inconsciente coletivo é a casa dos Arquétipos. Em síntese, os Arquétipos podem ser compreendidos como a psique objetiva: que é igual para todos; enquanto que os Complexos com a psique subjetiva: pessoal para cada um. O arquétipo apresenta como característica seu aspecto bipolar, positivo ou/e negativo, estruturante e/ou desestruturante. Um arquétipo pode atualizar outro na medida que as experiências humanas vão sendo construídas.



Dada a importância dos Arquétipos como imagens universais herdadas pela ancestralidade, alguns deles são de imprescindível importância para a compreensão da expressão da psique humana, denominados de arquétipos estruturais, que são: persona, anima e animus, sombra, e Self. A persona se expressa como o arquétipo da adaptação social; a anima e o animus como arquétipos contra-sexuais, função do feminino e do masculino em ambos os sexos, homem e mulher; a sombra é a fonte de tudo que há de melhor e de pior no homem, particularmente as relações com pessoas do mesmo sexo, sendo o mais poderoso e perigoso de todos os arquétipos; o Self é o arquétipo organizado da personalidade, principal arquétipo do inconsciente coletivo, atuando como fator interno de orientação.



Quando Jung fala de inconsciente coletivo ele faz uma ruptura epistemológica, pois até então era impensado um inconsciente impessoal. É através dos mitos, enquanto afirmação e expressão coletiva involuntária que tais revelações originais da psique podem ser acessadas, sobretudo através da simbologia dos sonhos.


Jung deixa ainda uma “psicologia por fazer”. Sua teoria não autoriza prática: existe um abismo entre a teoria e o método na psicologia junguiana. Algumas falhas de Jung são relacionadas ao fato dele ter lido apenas a primeira tópica da Psicanálise; Jung não lida com a estruturação do Ego nem com a ideia de formação de vínculos. Sua psicologia está interessada em compreender o Ego singido.


Jung traduz a linguagem do Uno no Verso, do “UniVerso”. Ele consegue acessar a inteireza e o numinoso da psique humana em sua essência de comunhão com o Sagrado. Entender o Homem como “Ser de passagem” e não como um “ponto de chegada” é a célula que estrutura toda a sua teoria. Talvez seja por isso que sua psicologia não encerra em si mesma, mas deixa por integrar toda uma psicologia ainda por fazer. Avante!!!







REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


HALL, Calvin, S. NORDBY, Vernon, J. Introdução à Psicologia Junguiana, 8º ed. São Paulo: Cultrix, 2005.

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