Um empresário paulista conseguiu 22 mil assinaturas que foram incluídas na pauta da comissão de direitos humanos do Senado para criminalizar e proibir os bailes funk no país. A sugestão proposta tornou-se ideia legislativa e entrou diretamente na pauta do parlamento. O senador Romário será o relator e no mês de agosto será ministrada uma audiência pública em uma comissão para debater o assunto.
Essa demanda proposta acompanha um texto que classifica o funk como “crime à saúde publica” e “falsa cultura” para “atender criminosos, estupradores, pedófilos, crimes contra criança e adolescente, venda e consumo de álcool, e drogas, agenciamento, orgia, exploração sexual e sexo grupal”.
A proposta claramente aborda o ambiente onde o funk mais se manifesta: as comunidades carentes onde as mazelas sociais se multiplicam. É como se o ritmo em questão potencializasse todos esses crimes e se a festa fosse conduzida por outro gênero musical nada disso aconteceria, correto?
De fato, dificilmente temos notícias de acontecimentos como os discorridos no texto em quadras de Escolas de Samba ou em festivais de Hip Hop. No entanto, tais gravidades não deixam de ocorrer com a proibição do baile. Ele irá migrar para outro tipo de evento. O funk, portanto, pode ter sido “sequestrado” por organizações que estejam promovendo festas onde os crimes descritos podem ocorrer. O tráfico, e as atividades que o permeiam, continuaria com outros estilos musicais embalando as distorções sociais enumeradas na proposta proibitiva. O consumo e tráfico de drogas ocorrem em raves e demais festas eletrônicas, por exemplo.
Se tais ocorrências estão presentes nos bailes com essa magnitude, vale ressaltar que mesmo não havendo o “pancadão”, esses atos continuam a acontecer de maneira esparsa, o que caracteriza que a falta da presença maciça do Estado e suas instituições é que corrobora o ilícito disseminado nas ruas com calçamento precário e sem saneamento básico. Responsabilizar o funk e suas letras pesadas só serve para a livre declaração de uma proibição pautada em preceitos morais.
Se o conteúdo das letras abordam descrições de práticas sexuais, enaltecimento do domínio de facções, ostentação materialista, e vinganças amorosas, é porque tal cotidiano permite que tais assuntos busquem guarida no ritmo. Já a mensagem, está na batida: uma maçaroca sonora que provoca agito, como agitada é a vida em locais de vida dura, driblando com malicia tiros, conflitos pessoais, esgoto a céu aberto e a repressão policial.
O que mais as letras repercutem? Um grito de socorro; um apelo; um pedido de ajuda. É o “batidão” mandando o recado: “a coisa aqui tá braba, mané”