A aura obscura que ronda o Brasil
- Alan Rangel
- 24 de jul. de 2017
- 3 min de leitura

Minha breve coluna de hoje é uma metáfora com o filme clássico Star Wars, relacionando com a nossa política brasileira. Qual o seu lado da Força?
Enquanto aguardamos o episódio VIII da saga Star Wars, previsto para o fim do ano, temos aqui, não em uma galáxia tão distante, mas em nossa própria trágica realidade, Brasil, uma espécie de guerra mística, da qual há forças do bem, justa, pacífica, positiva; e forças tidas do mau: corruptível, sombria, odiosa. Ou seja, uma sensação de que existe uma luta histórica entre o bem e o mau. Algumas pessoas tendem para o lado sombrio da Força, outras tendem para a luz. O problema é saber quem é quem?! É certo que a aura de uma batalha mística entre o bem e o mau é um tanto complicada quando se trata, claro, de humanos de carne e osso, muito mais ainda na política, na busca de uma esperança.
Ronda no país um discurso quase escatológico, apocalíptico! Uma dessas vozes é entoado, de modo significativo, por uma ala conservadora mais tradicional no Brasil, de viés bastante religioso, vociferando que o rumo do país deve ser orientando por homens de bons valores e grandiosas virtudes. Ah, que visão ingênua, quase divina do ser humano!
Essa semana observei, atentamente, posts no Facebook, tratando do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como o anticristo. Sim, exatamente isso! A besta corruptível difamadora dos bons valores! Boa parte desses propagadores são motivados por ideólogos, que lançam uma pseudo batalha espiritual. E ainda há uma massa que age como se fosse androides, reproduzindo ideias. Seriam mesmo os stormtroopers?!
Outros posts e comentários nas redes sociais apontam que a chamada direita brasileira (como se fosse algo homogêneo) é golpista, motivadora do atraso do país, deturpadora de valores democráticos, apologistas incondicionais do capitalismo em dissonância com os direitos sociais e direitos humanos. Ou seja, a direita está do lado sombrio da Força, e a esquerda é a voz da esperança, da redenção, da paz e da justiça social no reino humano.
E até o atual presidente da República é chamado de adjetivos como vampiro, vampirão, nosferatu, encapetado, a grande encarnação do Lord Darth Vader, que está levando o lado sombrio para o país. Acham que é exagero? Então replico abaixo um poema do artista, apresentador e um dos criadores da Porta dos Fundos, Gregorio Duvivier, fez para Michel Temer*:
Chamar-me-ão de vampiro De golpista ou morto-vivo Chamar-me-ão de mordomo Ou de vice decorativo Alguns me chamam de Drácula Outros usam Nosferatu Alçaram-me à presidência Pra acabar com a Lava Jato Confessar-vos-ei meu nome Antes que eu me vá embora Meu segundo nome é Temer Meu primeiro nome é Fora
Também, os futuros candidatos à presidência do Brasil alternam-se entre siths e jedis, aqueles que vão colocar a ordem no caos que ronda o país, ou aqueles que levarão a Nação para o fundo do poço. Proclama-se o escolhido. Mais uma vez: quem é quem?
As motivações para essas incursões são mesmo no nível do debate consciente, coerente, pensando aqui como racional, ou estão pautadas em comportamentos a níveis de imperiosos confrontos? O excesso de insanidade leva a barbárie - no sentido ordinário da palavra - a quebra do contrato, ao conflito generalizado, a uma guerra de todos contra todos, parafraseando o filósofo político Thomas Hobbes.
Por fim, retornemos, então, para a literatura, e aprendamos com as grandes mentes, vide o literário russo Fiódor Dostoievsky, em sua grande obra, Os Irmãos Karamázov, alertando sobre algo que não deveríamos duvidar, ou ao menos refletir: “Todo homem tem um demônio dentro de si: acesso de cólera, sadismo, masoquismo, ataques de paixões, cruéis”. Significa que por mais que queiramos apontar algumas marcas bestiais na testa dos outros, esquecemos que a bestialidade está potencialmente em cada um de nós. O impulso destrutivo acompanha a todos.
*http://www1.folha.uol.com.br/colunas/gregorioduvivier/2016/08/1807886-poemas-ineditos-de-temer-revelam-novas-facetas-do-interino.shtml
DOSTOIÉVSKI, Fiódor. Os Irmãos Karamazov. São Paulo: Ed. Martin Claret, 2013.