Desde os tempos de estudante secundarista, as visitas às bibliotecas públicas eram constantes. Frequentava duas em especial: a Biblioteca Pública dos Barris e a Thalles de Azevedo. Além de enfrentar fila (!) para tomar empréstimo de livros na Central e utilizar o infocentro na Thalles, lia jornais, periódicos semanais, apreciava recitais de poesia e até espetáculos musicais. De uns tempos pra cá, pesquisas científicas em jornais conservados do século XIX por mim eram feitas.
Mas qual o cenário desses locais hoje? Abandono. Esses espaços apresentam problemas estruturais, revistas defasadas, carência de funcionários e, sobretudo, ausência de público. Pequenas exposições clamam por atenção e as salas de leitura estão vazias. Banheiros depredados (na Central), equipamentos danificados, prateleiras que deveriam armazenar jornais para consulta expõem o nada. Os estudantes dos colégios vizinhos – assíduos usuários de outrora – são vistos com pouca frequência. Não há conforto, nem aconchego. Não é minha intenção criticar o poder público responsável. Contudo, o que escrevo aqui é resultado de um descaso com esses ambientes sociais.
Será que custa tanto manter o funcionamento decente dessas instituições? A digitalização de algumas obras e a informação corrente nas mídias cibernéticas não é desculpa para o afastamento das pessoas. Pensar novos modelos de acesso e criar idéias como chamariz para reocupação das bibliotecas é uma tentativa de se adaptar a uma nova realidade. E não justifica qualquer afirmação de que o meio virtual venceu a leitura convencional.
Até porque biblioteca não se associa com livros apenas. Como já havia citado anteriormente, encontros, exposições, recitais, palestras, são eventos que a dinâmica sócio-espacial permite para a interação entre as pessoas nesses locais. Não estou afirmando que esses eventos não mais acontecem. Mas não atraem público significativo. Não há uma programação robusta que mantenha os cidadãos presentes nas atividades dessas instituições. Nem sites próprios! Por esses problemas, é que sempre estamos rememorando um passado brilhante e intenso, saudosista e digno, ao contrário de um presente lamentável e repleto de lamúrias sobre como as coisas não funcionam, estão em declínio, enfim, como é diferente de uma época onde tudo acontecia plenamente.
Ainda com um agravante: o sucateamento de nossas bibliotecas acontece em uma cidade que preza pelo seu vasto calendário de opções de lazer e festa, mas que não envolve a leitura em potencial entretenimento, repleto não só de conhecimento, mas de informação, aprendizado, diversão e contato com o lúdico.
Poderia estar escrevendo sobre outros assuntos em uma biblioteca que me oferecesse essa honra. Sobre a beleza da Orla, um festival gastronômico, sobre os skatistas, ou bailes da Terceira Idade. Só que não...